sexta-feira, 30 de maio de 2008

VIVER EM SOCIEDADE...

MANUAL DO SISTEMA SOCIAL HUMANO.
De J. M. Macedo de Barros
NOTA: Excertos do manuscrito da obra.

MOTE:
Frequentemente, damos por nós a culpar o “Sistema” de todos os males que grassam no mundo social humano. Sabemos que esse Sistema regula a relação social e está feito à medida da vontade dos que determinam as regras de conduta. Sabemos que há regras justas e regras injustas, com diferentes espíritos, o que traduz diferentes vontades e intenções, próprias dos chamados regimes democráticos. Mas, sobretudo, dizem tudo de quem redigiu as regras, apelidadas de legais, à imagem do seu carácter. É o carácter que está por detrás de tudo o que dita as obrigações sociais; há bons e maus caracteres em todas as profissões, pelo que os justos devem saber que se indignam com as más pessoas e não com o sistema comunitário. Qualquer sistema funciona bem se as pessoas forem de bom carácter, entregues à missão de servir com respeito os seus semelhantes. Também não devemos condenar a política, mas sim alguns maus intérpretes.
A política é a administração dos assuntos comunitários e regula as relações sociais, segundo um ideal de modelo comunitário humano, embora descurando o processo mental de implementação das decisões. Enquanto a política não actuar ao nível da transformação de mentalidades dos cidadãos, nada evoluiremos desde o sistema medieval, que é o que ainda temos, embora apetrechado de melhores tecnologias e ferramentas. O poder, além de estar em todos os que legislam as normas, está também em todos quantos intervêm na execução das mesmas. Compreender as motivações de uns e outros, no íntimo dos egoísmos pessoais, é devolver o poder a todos, para construirmos a democracia participativa e alcançarmos a justiça social altruísta! Precisamos compreender o defeito humano, assumi-lo e fazermos a contrição, para termos esperança no futuro da nossa Espécie, sob pena de estarmos condenados à extinção e deixarmos o universo mais pobre!
Falta abordar o tema, abrindo todas as portas de reflexão e deixando a mente aberta. Que o diálogo seja livre de preconceitos e isento de submissões às vontades alheias, ou aos comprometimentos sentimentais com o egoísmo latente de cada um! Haja apenas um raciocínio frio, sem medos da nossa condição, por mais assustadora que seja a nossa realidade, no contexto da evolução universal!
A injustiça fortalece os fracos, se estes souberem onde reside a sua força, emanada do espírito de revolta, conseguindo-se que, no fim deste ciclo de governo social, a justiça se abata sobre os que se apoderaram dela e a aviltaram.
O feitiço do egoísmo e da ignorância virar-se-á contra os pretensos donos da cultura; os feiticeiros da esperteza, de vistas curtas, autistas e de olhar preso ao chão que pisam, acabarão extintos, mortos pelo sistema de valores e conduta que criaram, e ainda teimam em continuar!

PREFÁCIO:

Existem pessoas, pagas por todos nós, que continuamente engendram e aperfeiçoam o sistema; umas poucas, entretidas com a mesquinhes das concentrações e sonegações de riqueza. Outras, a esmagadora maioria, que pagam os primeiros, por falta de informação, por fraca instrução e cultura, por falta de motivação em aprender sempre mais, vão permanecendo como meros executores de ordens, e entregues às banalidades da vida, mais próximas das motivações animais básicas do instinto de sobrevivência; este é tanto mais desenvolvido quanto maiores forem as suas dificuldades de existência, ligadas ao seu desempenho socioprofissional e correspondente sistema retributivo do trabalho.
Portanto, a maior parte das pessoas permanecem na ignorância, propositadamente instituída pelo sistema educativo oficial, colocando-se ao serviço das minorias, na qualidade de instrumentos de enriquecimento e consolidação de poder dos que querem controlar a sociedade, com o simples objectivo de sonegar recursos dos irmãos genéticos, para que possam viver melhor que qualquer outro; a tal ambição desmedida, ou ganância ao serviço do egoísmo individual e competitivo, que faz destas pessoas os mais abjectos seres do universo, pois que só pensam o seu benefício, quase sempre à custa do prejuízo dos outros, pois que é uma consequência da aplicação da vantagem económica de qualquer negócio. Neste contexto, são apelidados de executivos pensadores pragmáticos, conhecedores das normas e dos processos de se fazer, mas desconhecedores do todo e das leis de harmonia, que governam o Universo; neste sentido, a generalidade dos economicamente poderosos são manifestos gritantes de ignorância. São verdadeiros autistas, pois só são bons num atributo, numa inclinação, numa obsessão para se desenrascarem apenas a si mesmos, e agora, segundo a moda reinante, desenrascarem os que já lhes prestaram um favor e podem vir-lhes a ser úteis.
A sociedade actual vive do desempenho de favores em cadeia, que, segundo o filme do mesmo título, só conduz a um Fim, que devemos evitar, sob pena de condenarmos a humanidade à saga do que aconteceu em civilizações falhadas!
Em consequência do actual “Fazer”, prevalecem as vontades de uns poucos, dos mais espertos que querem o poder de mandar, segundo os seus interesses pessoais ou de grupo de influência e troca de favores, de algum modo ligados por percursos comuns de vida e experiências que fortaleceram a sua união!
Em suma não há democracia, mas sim oligarquia, no contexto de um sistema feudal de relações de obrigação entre senhores e escravos, que se limitam a aceitar a imposição das hierarquias sociais superiores, que podem praticar todos os atropelos à justiça, contando com a cumplicidade das leis que eles próprios fabricam e que impõe o próprio medo da pena do incumprimento. Este, somado a muitos mais medos, conduz a massa trabalhadora da base de qualquer sistema social hierárquico ao acatar cego ou resignado de tudo o que é ordenado; nos impostos (a imposição do roubo instituído) e na lei (a imposição de regras tendencialmente servidoras de interesses particulares, dada a alternância dos grupos partidários de poder, servidores de interesses diversos e contraditórios, uns com os outros e com o interesse de bem colectivo).
Quem decide, inclina-se quase sempre para as opções acessórias e não para o fundamental, e fazem sempre como já tem sido feito; falta-lhes a genialidade para aplicar princípios unificadores, objectivos e procedimentos eficazes que combatam as causas últimas dos problemas. Da mesma forma que o médico receita soluções que combatem sintomas, os políticos investem nos subsídios e não na rentabilização das actividades. Investem nas despesas e não no investimento produtivo. Investem na fiscalização e não no esclarecimento nem na responsabilização do controlo colectivo. Investem no consumo de recursos e não na racionalização de competências e usos. Investem nos estatutos e na apropriação dos bens colectivos e não na sua utilidade social! Sobretudo, fazem sem que se perceba o que estão a fazer, apesar de o resultado ser o favorecimento de uns e o prejuízo de outros!
Com isto, quero dizer que só haverá democracia, quando todos forem esclarecidos, informados e puderem elaborar a verdadeira compreensão das intenções ocultas dos outros!
Vivemos numa sociedade dominada por conquistas na defesa de interesses particulares, sempre baseados na indiferença ou atropelo dos interesses dos outros, e sem pesar os princípios de justiça, adoptando-se, cada vez mais, procedimentos escandalosos! E isto faz a satisfação e o orgulho pessoal dos que, neste estado de coisas, se julgam mais espertos do que os outros!
Tem-se aceite a ideia de que o mundo é dos mais espertos; com muita verdade isso é verificado, e com alguma frequência esses espertos vêem-se confrontados com a necessidade de esquecerem a responsabilidade que todos temos na solidariedade, acabando por não cultivar a capacidade de ajudar, nem por desenvolver o conhecimento sobre o valor da causa social do seu sucesso; fundamentalmente, não aprofundam o conhecimento sobre a coesão social e sobre as relações de interdependência que afirmam a integridade e a preservação do indivíduo dependente dos seus semelhantes e da própria existência do universo, preferindo o exercício do egoísmo e do antagonismo individual, na mira intuitiva de usurpar aos outros o que mais ambicionam!
A maior parte dos espertos desconhecem o perigo futuro da sua predisposição e modo de vida, tentando superiorizar-se, no imediato, aos demais e exibindo o seu poder de recusa e negação da vontade alheia, esquecendo-se ou não sabendo, na sua sofreguidão ambiciosa de ser e estar melhor que o vizinho, que perderão tudo um dia para os outros...da mesma forma que o tinham retirado, e muitas vezes pela mão dos filhos ou familiares e amigos mais conscienciosos, em actos de culpa e contrição…!
Mais ainda, os de intelecto pobre, têm dificuldade em reconhecer que tudo o que têm, sobretudo ao nível das riquezas e representações materiais, devem aos outros e sobretudo aos que tanto teimam em desconsiderar e desprezar, repudiando-os dos seus círculos sociais! Esta atitude é geradora de oposições, conflitos, alternância de vontades, ruptura social e substituição dos protagonistas de Poder, por vezes abrupta, com círculo aparente de sistemas políticos, desde o despotismo até à pseudo -democracia, mas sempre com manutenção da forma de Poder, controladora do alívio das pressões sociais das bases. Apenas mudam as impressões que se passam para a generalidade dos cidadãos; é como se os responsáveis pela projecção dos filmes na sala mudassem de filme, criando novas histórias, mas mantendo as acções e formatos que melhores resultados obtêm para o negociante da sala, em tudo semelhante às sagas e "sequelas" cinéfilas. Por isto, e por enquanto, não podemos praticar ou instituir a democracia, embora esteja criada a sua realidade virtual!
A democracia representa a generalização de um estado de espírito individual, nunca atingido pela sociedade, que é cada vez mais movida por pressão de interesses particulares, desejando triunfar uns pelos outros, e até sobre os outros, na busca de "status" diferenciado e bem viver.
As várias tentativas de democracia vão sucedendo-se ciclicamente, apenas como forma de aliviar a tensão social resultante da luta pela conquista do Poder; a forma mais fácil de usurpar o Poder aos outros é condená-los nos pensamentos e nas acções que tragam desconforto imediato para o colectivo (criticar as tais medidas anti populares, mesmo que as mais certas). Aliás, dado que não é fácil avaliar o alcance futuro das medidas actuais, sobretudo pela perspectiva pouco esclarecida da maioria dos eleitores, torna-se muito mais fácil evitar a aplicação daquelas, contrapondo os resultados imediatos e os desagrados temporários; por isso, os políticos mais bem sucedidos são os que são mais rápidos no ataque, aproveitando o efeito inicial de descontentamento, antes que as pessoas se apercebam que afinal há sempre "bonança depois da tempestade"... e antes que os caminhos mais espinhosos sejam porventura os que dão melhores frutos! Esta estratégia resulta, até que as pessoas se comecem a desinteressar pela participação eleitoral, cansadas de ver a inconsistência de discursos políticos, a contradição entre estes e as práticas, a contradição de ideias, a imaturidade intelectual, a imoralidade, enfim, o jogo infantil de guerrilhas pessoais para conquista de um Poder altamente remunerador do plano material!
A médio e longo prazo (25- 50 anos) nada se resolve, até que as batalhas pessoais não resolvidas originem novas convulsões sociais e fenómenos de ascensão e destituição de grupos de interesses, o que obriga, pelo menos ao nível da memória curta, à prática de maiores índices de corrupção; os protagonistas usufrutuários da política sabem que terão pouco tempo para tirar partido material da sua posição de liderança, pelo que se tornam cada vez mais corruptos, em cada ciclo de alternância de Poder, subjacente ao sistema dito democrático. Caminha-se cada vez mais rapidamente para a conquista de honrarias, temendo-se pela "queda" a qualquer instante, na forma de demissão forçada, voluntária ou não! Por isso, nos sistemas ditos democráticos, há sempre maior acumulação de riquezas materiais e maior diminuição de riquezas morais, por parte dos que controlam e dirigem o Poder, com degradação de princípios e da justiça, dado a precariedade e o menor tempo de percurso individual no Poder, por parte de alguns que se intitulam, ou querem intitular, de políticos. Alguns políticos dão a imagem de que o essencial é a corrida ao dinheiro, conferidor ou atestado realmente interessante da importância social, de resto tão cobiçada.
Em qualquer povo existem os que muito ambicionam e cobiçam e os que isto rejeitam; existem os que têm capacidade honesta para conseguir o que desejam, sem que ninguém seja prejudicado, e existem os que precisam ser desonestos para obter o desejado, dando cumprimento à sua obsessão materialista de Vida, muito acima das suas reais capacidades, embora também existam os que têm de ser desonestos, para reclamar aquilo a que têm direito, mas que lhes tinha sido negado, também por processos desonestos de uso do Poder! É o caso das pessoas inteligentes que são prejudicadas pelos "decoradores" das Universidades. Só no género humano é que os que têm menores capacidades naturais de competição, em termos da medição das reais características necessárias para executar uma função, conseguem vencer as provas competitivas...por meio das estratégias ardilosas!
É indesmentível que, no plano da sociedade comercial, em que as pessoas se reduzem a um valor de compra e venda, para poderem prostituir-se e serem usadas pelos outros, o dinheiro é um garante de felicidade, mas também é verdade que, no plano da sustentabilidade da continuidade do sistema de capitalização do ciclo de produção - consumo, todos devem ter boa capacidade de aquisição de bens, sob pena de falência do sistema económico e da respectiva sociedade. Também é seguro que o crescimento económico passa pelo estímulo do consumo de bens perecíveis ou de curta duração, e por isso já é líquido que muitos produtos já não são o que eram…, quer em termos de duração, quer em termos de qualidade e robustez.
Quando o produto é a pessoa, a perda de qualidade é fomentada pela vivência em contradição, entre o que defendem no discurso das ideias e o que fazem na prática; por exemplo, as mulheres feministas, na loucura da libertação e afirmação, acabam por ficar mais subjugadas ao que o homem mais aprecia, quando defendem e experimentam a exposição sensual de partes sensuais do seu corpo. Hoje, e atendendo ao movimento de emancipação, explora-se entusiasticamente a devassa do corpo, com permissão de sitiar as mentes, reduzindo-as a um estado de pobreza generalizado, por sua vez altamente desmotivador dos puritanos à procura de parceria no género oposto! Controlar é subverter continuamente os bons princípios!
Por tudo isto, vemos que os ricos fazem-se com os pobres, e vice-versa; interessa agora criar as condições para que todos possam ser ricos... mesmo os ricos, sobretudo ao nível das representações morais e ideológicas! Todos podemos aprender uns com os outros, no reforço da coerência de ideias, acordando para a realidade das intenções e ajudando-se todos a compreenderem-se a si mesmos.
Ajudar real e verdadeiramente, sem necessidade de perpetuar a caridade, tão conveniente para alguns sistemas de parasitismo social, não é tanto o dar, mas antes o ensinar a produzir a dádiva para os outros, acabando com a ignorância, com a inaptidão e com a inépcia e instituindo-se a obrigação da responsabilidade de servir os outros em sociedade, atendendo-se à satisfação das necessidades que cada um não consegue resolver!
Só a resignação nos transforma verdadeiramente em falhados e pobres. Só há sentido na Vida se o sofrimento não resultar em resignação, mas antes resultar em capacidade de luta para alterar a nossa condição, afrontando o que ou os que não permitem o nosso sucesso, na dura disputa competitiva, para acesso aos melhores lugares; e há pessoas que são vistas como fortes competidoras potenciais em todos os locais, sujeitando-se a ser marginalizadas em todas as instâncias, por serem incapazes de lutar do mesmo modo.
Devemos lutar para além das nossas capacidades, sobretudo sem termos necessidade de "fazer como lá virmos fazer", nem que tenhamos de usar a via agressiva; não dar aos outros o que teimam em sonegar-nos, ou fazer aos outros o que estes nos fizerem, em tempo real e instantâneo, retirando-lhes a nossa colaboração. Que fique bem claro que a vantagem e riqueza de uns poucos faz-se obrigatoriamente com o prejuízo, esforço e pobreza de muitos outros!
Apenas os bens morais e intelectuais perduram com as respectivas pessoas, perdendo-se com elas, sendo portanto delas e definindo-as intimamente na sua essência, mal divulgada e apreendida, acabando por constituir-se uma memória ténue e superficial do seu valor profundo. Mesmo as suas obras, não sendo o ser procriado, são apenas sementes que há que cuidar e sentir para lançar no terreno mais apropriado, onde possam reproduzir, pelo menos, uma forte imagem e um melhor exemplo do seu antecessor, porventura melhor adequado ao objectivo de conseguir mudar para melhor o que tinha sido denunciado como mal, de tão sentido pelo seu criador. Assim se faz a evolução do pensamento, das ideias e do Homem lógico, desde a alegoria da caverna de Platão, até às retratações culturais da actualidade, na senda do império cultural da Humanidade!

INTRODUÇÃO E CONSIDERAÇÕES.

Desde tempos imemoriais, a nossa espécie começou por estar votada à remediação instintiva, muitas vezes inovadora e de carácter pessoal, do problema da sobrevivência, que merecia constantemente uma resposta diária imediata, em função das dificuldades experimentadas em cada momento. Todos tinham de aprender um legado; o legado da experiência de Vida, feito sempre "a pulso", e mantido ainda nos nossos dias, capaz de valorizar pessoas de sucesso, começadas "a partir do nada"!
Tratava-se, afinal, de garantir o sustento para si e para os seus, e trata-se agora de garantir distinção e melhor conforto sócio - económico. Mais ontem, do que hoje, procurava-se resolver o melhor possível e atempadamente, prevendo, enfrentando ou evitando os perigos, colocados pelos outros seres vivos ou pelas estruturas e dinâmicas terrestres, associadas ao relevo, ao clima e aos fenómenos geológicos, sobretudo os de natureza catastrófica, tais como as tempestades, os vulcões e os sismos, para não nos referirmos aos eventos da dinâmica universal, sempre inquietantes ou aterradores, tais como os eclipses, os "rastos de fogo", as "explosões celestiais" e as chuvas de meteoros e quedas de asteróides, aportando germes de desgraça.
O Homem confrontou-se sempre com um quadro de Vida que inspirava muitos medos, expunha fraquezas e criava muita resignação; esta altamente confortante no "ter que ser" do destino, que todos deixa mais descansados na derrota certa! Aprendeu-se, desde sempre, a não esperar nada da Vida, para além do que nos fosse permitido conquistar, muitas vezes na ilusão de se terem alcançado pequenas vitórias pessoais. Pelo menos, em final de Vida, se a ilusão e a inocência tanto se prolongassem, em jeito de último balanço, podia colher-se a impressão de termos obtido um somatório de pequenas "coisas", que ditassem a nossa grande vitória; o triunfo na Vida, de acordo com a obtenção do que era mais ambicionado e muitas vezes socialmente valorizado, face à necessidade de querermos agir iguais, para sermos melhores! Tem sido esta a falácia da Igualdade.
A partir daqui, uns tentaram logo o grande triunfo, enquanto que outros se ocupavam de pequenas vitórias pessoais, resolvendo aturadamente os problemas diários, com a convicção do artista que compõe os matizes de um quadro de luz, contraste e movimento, de modo a criar uma coerência harmoniosa do todo aparente, como forma de transmitir uma mensagem essencial de Vida, ou uma obsessão existencial. Por esta duas vias, surgiram os heróis destemidos da acção imediata, destemidos sem medo dos outros e ligados à força física, capazes de amedrontar os da outra via, mais cobardes, que preferem viver sempre na sombra, arquitectando formas de se protegerem dos que os atemorizam, pois que competem superiormente pela posse dos bens; surgem as sociedades secretas que maquinam o sistema social e o seu governo, de modo a manietar aqueles que temem, reduzindo-os à fraqueza económica, para os terem à mercê.
Os primeiros correm os riscos de um modo instintivo, desprendido e aventureiro, entregando-se apaixonadamente e irreflectidamente ao "Fazer", desenvolvendo "novas modas", enquanto que os segundos calculam e criam o seguro para os riscos que conhecem, não se atrevendo nem afiançando pelo desconhecido. Estas pessoas, muitas vezes associadas ao "cinzentismo", programam a sua vida e desenvolvem projectos de vida, ao arrepio das tendências mais inovadoras, preferindo as "velhas modas", mais bem testadas e portanto mais seguras. Uns não contam com os outros, mas ambos se influenciam, embora anacronicamente! Daí o "timing" da mudança e da evolução do "modus operandi" ser considerado lento para os primeiros e excessivamente rápido para os segundos. Daí o modo instituído de fazer ser considerado arcaico, estúpido e errado pelos primeiros e único possível, correcto e seguro pelos segundos. Os segundos "cortam as pernas" aos primeiros. Os inovadores, nem sempre empreendedores, vivem pelo que querem ter, algumas vezes pelo que admitem fazer, em função dos seus princípios de Vida, criadores de novas personalidades, mas os conservadores vivem por ver viver, em função do que vêem fazer, tentando instituir uma alma para as futilidades da Vida e novos sentidos para as aparências, sempre padronizadas. A inovação significa mudança de poder, mas também pode significar desastre; logo, os conservadores podem ter medo das duas coisas, ou de apenas uma delas! Também há os que estão permanentemente em crise ideológica, por tentarem pertencer ou agradar aos dois tipos, sujeitando-se a cada um deles, em resultado de não resolverem o conflito de personalidades com os seus progenitores!
Foi a necessidade de triunfar, primeiro sobre as dificuldades da Vida e depois sobre os seus semelhantes, a partir do momento em que a pressão competitiva se fez sentir, em função do crescimento demográfico humano nos centros populacionais de fixação (o Homem sedentário tem uma visão mais restrita da diversidade do espaço e das suas fronteiras, tendendo a sentir mais a limitação de recursos e oportunidades, o que o conduz a um maior índice de disputa e defesa das conquistas), o que dirigiu o Homem na aventura da civilização! Muitas tentativas civilizacionais se concretizaram e falharam, soçobrando perante o auge do desenvolvimento económico, muito em parte devido às motivações da psicofisiologia humana, conducentes ao vício recompensador, basilar dos fenómenos sociais humanos de decadência e crise intelectual, produzidos sobretudo pela artificialidade e incongruências do sistema económico e político - administrativo, alimentador de discricionariedades, praticadas pelos indivíduos que fomentam e aproveitam a pulverização do poder. Quantos mais a mandar, mais os prejudicados pelos sentimentos de antipatia, gerados entre as pessoas; nuns tempos prejudicam-se os que se comportam como os ditos de "esquerda" e noutros prejudicam-se os que se comportam como de "direita". Não há dúvida que as pessoas gostam de usar o poder contra tudo o que não "reza" com elas! É este estado de espírito ditatorial do ser humano que arruína qualquer sistema.
O sistema de governo tem-se revelado sempre um sistema oportunista, vocacionado para a exploração máxima das necessidades humanas prementes, com estratégias de engano e marketing falacioso, de truques de indução de ideias falsas, acabando por gerar graves desequilíbrios globais, que nos conduzem à insustentabilidade do crescimento económico, devido a uma crescente marginalização dos menos competitivos e dos mais escrupulosos, incapazes de acompanhar o ritmo sôfrego dos que tudo querem conquistar, na alienação de uma ambição ilimitada pelos símbolos do estatuto de prestígio social. É o culto da vaidade, baseado na concretização da ganância!
Estamos já nesta fase de desenvolvimento, caracterizada pelo generalizar da corrupção, à semelhança do moribundo que sente novos desejos e ganha novas energias, antes do suspiro final, a não ser que hajam milagres ou terapias de choque; a meu ver, optaremos sempre pela terapia de choque. Milagres, ocorrem mais facilmente por meio dos "males" que vêm por "bem"! Mesmo os colapsos do passado revelaram fins de transição para novas civilizações, baseadas nos dissidentes e marginalizados, não aderentes ao espírito maioritário, e em ruptura moral com a prática instituída!
Não fosse o orgulho pessoal, a ganância comercial e a valorização artificial da aparência dos objectos e das pessoas, em função da procura instituída, aliados à euforia e desmotivação laboral em épocas de crescimento económico e luxúria, e conseguidos à custa do agravamento da injustiça, do aumento da permissividade, da imoralidade e da libertinagem, talvez não se fechasse mais um ciclo civilizacional, com cada vez mais pessoas em busca dos esotéricos que possam valer-nos, alimentando esperanças em extraterrestres, sempre mais desenvolvidos que nós, pois que pressupostamente não padecem dos mesmos vícios que nos atrasam e condenam ao desaparecimento, mergulhados na injustiça social de base remuneratória e na imoralidade de condutas contra -naturais!
A realidade diz-nos que é mais fácil decidir pelo estado de loucura colectiva, em que os líderes se confundem, criam falácias, erram no pensamento, já de si inconsistente e mal ponderado ou mal esclarecido, tentam agradar aparentemente à maioria, mas sempre manietados por relações de dependência ou amizade! São as condutas degradantes, conducentes ao ruir da confiança na autoridade, que conduzem ao descalabro social, tão característico dos sistemas ditos democráticos, onde se invoca a inocência, mas violentam-se os inocentes. Acredita-se ou faz-se acreditar sempre na boa intenção e escrúpulos das pessoas, no respeito pelo indivíduo, qualquer que seja, construindo-se sempre representações puras do género humano, que mais tarde, quando desenganados ou desiludidos, descobrimos friamente estarem muito acima do que efectivamente somos.
São as vicissitudes da paixão, que começa por focar um só atributo do objecto, que nos embriaga até que o tenhamos usado até à exaustão das experimentações e sensações possíveis; no fim, depois de esgotadas as descobertas agradáveis e instalada a habituação e a rotina, descobrimos as outras qualidades (defeitos) do objecto da nossa (des) atenção, por sinal sempre desagradáveis, à luz da nossa sensação de enganados. Surge a ruptura emocional com o objecto, sendo colocado num local do sótão incómodo das nossas vidas, sobretudo porque temos de carregá-lo sempre connosco, ainda que só na forma do memorial amargo. Procurar espaços longe desses objectos, ainda que formalmente ligados a nós, é meio caminho andado para a ruptura física definitiva com o objecto; transponha-se para todos os domínios da nossa Vida, sobretudo para as relações, mais ou menos formalizadas dos compromissos entre pessoas!
O que é certo, é que a generalização de determinados princípios, como o direito à diferença (até porque é "chato" ter de determinar rigorosamente as situações de aplicabilidade de todos os princípios que se vão inventando, ao gosto das tendências e gostos de estética de cada grupo e indivíduo influentes, que se satisfazem apenas com o "fica bem"), acaba por permitir tudo, inclusive o reforço das garantias para os que ainda não resolveram o seu distúrbio psico-fisiológico.
Até parece que já não se sabe para que se criaram as normas legais, dada a actual vocação dos legisladores para produzirem substituições repetidas de leis, ao gosto daquilo que "acham", conforme o que conseguiram memorizar (não entender nem analisar) da rama de alguma corrente ideológica, que apanharam durante o período tempestivo e confuso de descoberta das suas vidas! Ao que se sabe, as leis foram criadas para regular a relação interpessoal, de modo a manter um ambiente de harmonia e paz social; ou não?
É que há cada vez maior preocupação em assegurar a observação dos direitos dos prevaricadores sociais, diminuindo-se consequentemente as garantias dos direitos das suas vítimas directas, por vezes conduzidas à situação de culpa inicial, obrigadas a ter de suportar as custas do apoio ao criminoso, havendo agora a máxima preocupação com o bem estar e conforto dos prevaricadores, em situação de reclusão. Cada vez mais, institui-se a compensação dos que cometem o crime, antigamente escamoteada e não generalizada! É que nem todos os cumpridores de pena são resultado da descompressão da injustiça social, nem todos actuaram com alguma licitude contra o resultado do prejuízo a que a sociedade privilegiada vota os mais desfavorecidos!
Nesta fase de desequilíbrios sociais e falta de discernimento, a todos os níveis, foca-se a atenção apenas numa dimensão do problema e procede-se a ajustes unidireccionais, favorecendo apenas um interveniente, sem acautelar as garantias das obrigações morais de bem e coesão social e esquecendo de salvaguardar os que cumprem com as suas obrigações de conduta social para a preservação da Espécie. Muitos artigos, constantes das cartas proteccionistas, tão em voga nos nossos dias, são claras concessões aos mal-intencionados; por exemplo, as situações de aplicação ao sistema judicial, na fase de instrução de processos e julgamento, acabam por incentivar a irresponsabilidade e o "laxismo" dos agentes policiais e judiciais, convidando também ao desincentivo da boa conduta e moralidade do cidadão, acabando por lançar-se uma plataforma de conduta social, pautada pelo desrespeito e pela impunidade! Sobretudo, as pessoas competentes demitem-se de aplicar a autoridade, com receio de retaliação, e sabendo que ficarão isoladas numa qualquer posição de incompreensão da mentalidade jurídica, dita incómoda para os amadores da política, os mesmos a quem está entregue a representação de ideais e o "dar a cara" pelos destinos do nosso país!
É certo que a Lei é um conjunto de regras de conduta, enunciadas como bem o Homem desejar em cada momento da história; resta saber que tipo de Homem está agora com o Poder de legislar! É que começa a verificar-se uma perigosa inversão de valores morais, em resultado de muita pressão dos grupos que desejam viver apenas em função do que lhes apetece e dá gosto, independentemente das consequências para os outros. Existe cada vez maior preocupação em reivindicar direitos, com prejuízo dos deveres para com os outros, o que é prática de qualquer movimento reivindicativo organizado minoritário, actuando nas plataformas de criação e influência de gerações de políticos. A tudo isto se cede, como única forma de segurar o lugar de Poder, cada vez mais a única causa a defender pelo político apadrinhado nos grupos de influência social! Cada vez mais evidente, temos que os valores e princípios instituídos servem apenas os interesses de minorias organizadas e reivindicativas, com algum tipo de Poder sócio -económico, por detrás dos Homens políticos, que lhes devem a sua ascensão e apoio de promoção. É no seio destas minorias que se criam plataformas de ensaio para novos políticos, uns feitos autênticos "lobos", com "pele de cordeiro" e outros feitos autênticos "cordeiros", quer tenham ou não pele de cordeiro..., para serem lançados às "feras", por quem se quer ver livre de incómodos na organização do grupo, ou por quem quer prejudicar o próprio grupo..., ou por quem quer servir-se apenas a si mesmo ou/e ao grupo!
Resta dizer que só se observará um sistema verdadeiramente democrático quando todos os cidadãos de bem tiverem poder representativo, esclarecido e reivindicativo, de modo a fazerem valer os interesses de natureza universal, ligados à estrita observação dos princípios de justiça fundamental, assentes nos valores de conduta social responsável e altruísta; quando formos capazes de governar um País, como se de um condomínio se tratasse, onde os políticos perdem a sua postura autoritária, agindo apenas como administradores eleitos, da vontade justa e lícita dos condóminos, e orientadores esclarecidos para os melhores rumos!
Por enquanto, os eleitores nem têm sequer possibilidade de definir os salários dos seus eleitos, nem as honrarias que estes devem usufruir, em função das competências e condutas evidenciadas. No entanto, os eleitos servidores determinam o quanto devem ganhar os seus eleitores servidos, relegando estes para a condição de votantes apaixonados em imagens tecidas, na triste situação absurda de serem patrões de funcionários plenipotenciários, estes com capacidade para subjugar quem lhes paga o salário e demais honrarias, em resultado de uma longa experiência monárquica, que instituiu o culto das famílias aristocratas, assentes apenas na detenção de uma grande memória de domínio cultural; o próprio sistema educativo está orientado para a selecção dos mais sábios, detectados por testes à memória de curta duração, e não orientado para a selecção dos mais inteligentes, embora se diga que um aluno que "decorou" montanhas de informação é inteligente! Confunde-se capacidade de memória com capacidade de resolução inovadora em situações novas. Por conseguinte, valorizam-se os "assimiladores de normas instituídas, vulgo marrões" e dá-se-lhes a autoridade para mandarem na sociedade, conforme souberem e quiserem, o que por vezes é preocupante, quando as velhas fórmulas memorizadas, e cada vez mais mal percebidas, perdem eficácia, face à perpetuação dos problemas, ao surgimento de novos problemas e à cultura do "facilitismo"; contudo tem-se a garantia de andar, mas devagarinho, para que as regras sejam ressabiadas e possam ser utilizadas mais tempo por gerações de candidatos ao sucesso sócio – económico!.
Só em países de nível médio cultural medíocre, ou de falta de protagonismo da inteligência, é possível sustentar o autoritarismo injusto, face à incapacidade do colectivo para definir as orientações de plano exequíveis, isentas de carácter egoísta e sectorial, e por conseguinte sem defesa de interesses corporativos.
Nesta condição torna-se necessário lançar as bases da democracia esclarecida, para dar lugar à democracia participada, onde os cidadãos terão poder intervencionista, gerador de objectivos e estratégias de desenvolvimento, devidamente analisados, seleccionados, hierarquizados e activados / corrigidos em planos de acção pelos administradores (políticos) do Estado, onde todos nos devemos incluir e sujeitar, com verdadeiras condições de integração, ao contrário do que hoje acontece, em que as práticas de organização, gestão e administração do Estado são fortemente marginalizadoras dos cidadãos mais honestos, mais inteligentes, mais íntegros e mais escrupulosos, mas ou menos informados ou/e menos actuantes!
Originariamente, os serviços do Estado foram criados para servir o semelhante, na resolução dos problemas do quotidiano; a partir do momento em que a aglutinação populacional cresceu houve uma multiplicação de receita, sem redução de taxas que reflectisse o aumento de colecta, à semelhança do que acontecia no sector privado. Logo, estes serviços começaram a gerar imensa riqueza para quem os captava e explorava, o que perverteu o grande objectivo inicial; passaram a conceber os serviços, mais para criar emprego público, do que para servir os seus consumidores destinatários, na ânsia de crescimento do aparelho e do negócio, tanto no sector privado como público, que acaba por originar desmultiplicação de funções, para servir-se a si próprio, com maior penalização dos privados tributários.
Isto também é o modelo do crescimento das instituições privadas. Veja-se o caso das seguradoras; experiência inicialmente surgida na acção de previdência dos pescadores, que pretendiam socorrer os familiares dos seus colegas que pereciam ou ficavam inválidos nas campanhas de pesca. Por meio de colectas entre os pares recolhiam fundos, que revertiam para os que ficavam privados da força de trabalho! Actualmente, só a concorrência poderia obrigar a reduzir o valor dos prémios para níveis mais adequados à compensação do aumento de rentabilidade já verificado, não fosse a política de fusões e a concorrência desleal; no primeiro caso, aliam-se aos que não vencem e, no segundo caso, arruínam os menos competitivos, por exemplo através da política de aquisições ou de subsídio de preço! Dado que a política concorrencial, levianamente pensada pelos políticos, já foi neutralizada, venha agora mais um inocente inventar ou descobrir outra política que possa controlar a ambição desmedida do Homem e a próxima ditadura de preços, a exercer pelos grupos económicos, internacionalizados no contexto da economia global.
Entretanto, a principal preocupação dos administradores do Estado consiste em angariar cada vez mais colecta, de modo a fazer face ao crescimento do peso da máquina orgânica pública, hábil em julgar controlar tudo e em criar mais departamentos de funcionalismo replicado, objectivando-se sobretudo a redução do desemprego, mas a consequente asfixia económica da iniciativa empresarial privada, que tem de suportar cada vez maior nível de colecta. A necessidade de dinheiro leva a que se engane os tributados, criando muitos impostos indirectos, à medida que se afirma querer reduzir os directos, para aliviar a pressão sobre os contribuintes; e depois dizem que o Estado é uma pessoa de bem... ao que parece é apenas para ter a legitimidade virtual para controlar e obrigar a tributar. Claro que certos empresários até atestarão que o Estado é uma pessoa de bem, desde que lhes seja devolvida a carga fiscal, teoricamente entregue mas praticamente devolvida, na forma de subsídios ou incentivos. No entanto, a generalidade dos fracos de Portugal vai tendo a mais baixa fatia de rendimento disponível do chamado "pelotão da frente"; somos dos que temos mais pesadas contribuições ao Estado, preços mais caros e salários mais baixos, e no entanto somos os melhores consumidores de telemóveis, com a particularidade destes nos prejudicarem gravemente no médio e longo prazo, sobretudo ao nível das nossas prestações físicas, dependentes do estado do nosso sistema imunológico, de qualquer das maneiras já enfraquecido pelo proliferar das radiações electromagnéticas, que verdadeiramente já comprometeram a estabilidade eléctrica da atmosfera, gerando os actuais desequilíbrios climáticos; não se esqueçam da disseminação radioactiva que o génio Einstein ajudou a criar!
Existem sempre os que beneficiam do sistema de procedimentos da engenharia fiscal; actualmente são os funcionários públicos, cuja tributação é praticamente um plano de reforma, sabido que, na aposentação, receberão o melhor valor do mercado das aposentações, para nem sequer falarmos dos contratos de nomeação e respectivas cláusulas de rescisão, ou das compensações indemnizatórias aos cargos políticos cessantes. Ainda bem que somos um País de reformas douradas, sobretudo quando o esforço e a responsabilidade profissionais evidenciados são o que são. Somos um país de grandes facilidades e felicidade...perigosamente só para alguns!
No entanto, a generalidade dos marginalizados desta democracia vai agonizando de "credo" na boca, ante o parasitismo do sector público, autêntico "Senhor Suserano" neo-medieval, afirmado por uma real ditadura, a que alguém já chamou de ditadura do dinheiro, mas que eu prefiro chamar de ditadura dos interesses, sempre presente em qualquer sistema sócio - político de governação! Tudo porque se dá demasiada liberdade de decisão a grupos restritos da sociedade, indevidamente avaliados nas suas características curriculares e pessoais de pensamento e conduta!
A história tem mostrado que os espezinhados optam por expurgar, sobretudo quando informados, conscientes e desiludidos, o que os faz insurgir em revoltas populares, libertando toda a coragem necessária para afrontar os seus medos e subserviência. Já existem assomos de querer mudar o estado das "coisas"; cortam-se estradas, julga-se sumariamente, reclamam-se leis contra leis. Começa a haver um descontrolo e uma grande irracionalidade na adopção de práticas discutíveis!
Ao mesmo tempo, os academicamente ditos adaptados, realmente os mais permeáveis às falácias do sistema e por conseguinte menos inteligentes ou menos escrupulosos, acabam por desenvolver uma nova cultura de consumismo e oportunismo, na forma do desenvolvimento da postura do "Chico-esperto", usando os outros e explorando dolosamente as situações.
Resta-nos esperar por melhores dias, investindo na formação do indivíduo, de modo a que sejam menos inocentes uns e mais solidários outros, para que se estabeleçam outros mecanismos de regulação dos outros e de avaliação da confiança, que possamos depositar nas pessoas!
Até lá, vejamos como tudo se encaixa, para podermos entender porque ainda não temos uma sociedade justa e globalmente próspera, onde todos possam ser efectivamente ricos, em todas as dimensões do melhoramento ambiental interno e externo do indivíduo. A diferença entre riqueza e pobreza está no desenvolvimento correcto ou incorrecto das motivações de Vida. O perfil pessoal de cada um determina o seu sucesso ou fracasso, nas relações com os semelhantes, afinal os que permitem ou não o sucesso de cada um...; é que os ricos, para o serem têm de empobrecer alguém!

ALGUNS CAPÍTULOS DE DESENVOLVIMENTO (excertos):


MORTE: E REFORMULAÇÃO DA INFORMAÇÃO (Princípio da falência dos suportes da informação e reciclagem de matéria):

Morte define-se como a inanição e termo da vida, por ausência de qualquer reactividade, após o que a matéria se desorganiza para dar lugar a outros estádios, quer inertes, como minerais, quer pré- vivos, como vírus, quer incorporada noutros seres vivos, o que dá consistência à teoria mais romântica das reencarnações.
Reformulação define-se como uma nova constituição, entrando-se com novos elementos de análise (divisão) e síntese (construção), o que implica repetir o processo de constituição de um modelo, expressando a essência material de outra forma.
Falência define-se como a ruína e inviabilidade de continuação de uma existência, por não se assegurar o seu funcionamento correcto.
Reciclagem define-se como o processo de alteração de sequência num ciclo, actualizando-se a situação para as suas origens, com renovação e melhoramento.
Matéria define-se como a essência que tem massa e que compõe os objectos que existem, onde se incluem os que se manifestam à nossa percepção. Nem todos conseguimos ver os mesmos objectos, dependendo da acuidade da nossa percepção.
A existência implica uma sucessão de transformações, tendentes para a concretização de uma experiência da matéria, orquestrada pela energia. Um certo tipo de condições permite a criação de uma entidade viva, ou não, mas que se continuará, desde que se mantenham estáveis essas condições. A entidade criada continuará a evoluir favoravelmente, tornando-se mais complexa e, no caso das entidades vivas, com consciencialização de si mesmas e com capacidade para agir no meio e armazenar produção de conhecimentos abstractos novos.
Quando as condições se tornam desfavoráveis, a entidade criada começa a gerar maior desordem que ordem e desagrega-se, entrando em falência dos vários níveis de organização. Lentamente, entra em processo de morte esperada, embora a submissão e condições desfavoráveis violentas e instantâneas conduza também a uma morte dita acidental, não esperada.
Portanto, a matéria desorganiza-se, flui para outros espaços e contentores, onde tentará novas fórmulas de organização esperadas, de acordo com as condicionantes aí existentes, gerando novas entidades vivas ou não; o mito da reencarnação simboliza isto mesmo, pelo que cada um de nós pode integrar uma parte futura de outra entidade, e ser ao mesmo tempo constituído de várias entidades passadas, parciais ou totais.
Por isso, a morte alimenta a vida, e esta sujeita-se à morte, para que cada ser vivo, ou melhor, a vida possa adaptar-se à alteração das condições que se possam manifestar sobre a matéria do universo. Em última análise, a vida nunca se extinguirá para sempre, mas antes terá momentos de desaparecimento para novas reformulações que basearão novas evoluções da matéria, tendentes para o aparecimento de novas formas de vida, de novas realidades e novos universos.
Assim, a morte é um processo que obriga todos os seres vivos à realização do altruísmo maior; talvez por isto estar apreendido no inconsciente de todos, teimamos em primar pelo egoísmo nas realizações de vida, como forma de contrariarmos o medo da morte!
Daí a busca do prazer a todo o custo e a satisfação louca de todos os desejos, de um modo inconscientemente maquiavélico, cada vez mais com prejuízo de terceiros.
Tendencialmente, os indivíduos, por pressão do sofrimento e do conceito inconsciente de morte, desenvolvem comportamentos de risco na esfera das várias dependências, quer sejam as drogas químicas ou outras, e acabam por precipitar a morte que tanto temem.
Devíamos estar mais preocupados com o legado que devemos transmitir aos que forem ficando vivos, emprestando solidariedade a cada dia que passa, vivendo-o como uma preparação do amanhã, pelo desenvolvimento de todas as nossas capacidades e talentos. Só assim evoluiremos mais acelerada e objectivamente, uma vez que as soluções estão em cada um de nós, repartidas como “puzzles”, de onde o progresso eficaz advém da participação de todos para a solução das tormentas que nos afligem.
Possivelmente, uma das respostas do progresso, assim baseado, será o retardamento do envelhecimento, até que se erradique o processo de morte dos tecidos vivos, conduzindo-nos a uma eternidade independente do Universo, no ciclo de criação de Deus!

INTELIGÊNCIA E INVENÇÃO (Princípio do talento dos génios):

Inteligência define-se como a faculdade de conhecer e criar conhecimento, através de sistemas de compreensão e elaboração da informação recebida pelos sentidos, o que permite descobrir os padrões de lógica do funcionamento universal e acabar por inventar, ou seja, produzir informação que não se obtém pelos sentidos, mas que é permitida pelas leis universais, e pode materializar-se no funcionamento das invenções.
Invenção define-se como a criação de algo novo, embora previsto pelas leis universais, o que concretiza os nossos conceitos e imaginações de possibilidades. As descobertas apenas colocam nos sentidos e conhecimento aquilo que já existia e funcionava.
Talento define-se como a aptidão e habilidade próprias para se executar algo, e que os gregos consideravam estar na base de toda a riqueza e até do símbolo monetário, constituindo o dom natural de cada indivíduo.
Genialidade define-se como a predisposição natural para um talento invulgar, que confere uma elevada capacidade intelectual para afirmar superiormente um destino ou dom.
Todos os dias, os seres vivos tentam resolver problemas do quotidiano; sempre que realizam uma tarefa, deparam com um imprevisto, são assaltados pelos pensamentos, e tentam ultrapassar o impasse de pensamento e acção, construindo novo conhecimento.
De facto, a inteligência é um processo de construção mental, que desenvolve novas soluções, ou adapta soluções a problemas que experimentamos pela primeira vez e dos quais não tínhamos conhecimento. Em última análise, há uma capacidade para raciocinar com os dados característicos do problema, ligados aos dados da informação armazenada conexa, oriunda da nossa instrução académica ou experimental. É facto que há muito sábio pouco inteligente, há muito inteligente pouco sábio, e talvez só os génios consigam combinar o equilíbrio, pois produzem mais rapidamente as novas concepções de resolução, que lhes permite ir mais além no raciocínio ; a maior parte das invenções chave deveu-se a inteligência, e portanto a pessoas notáveis. Outros inventos são consequência da conjugação de peças anteriormente inventadas; mais inteligente foi o que inventou o código binário, ou o circuito integrado, que aquele que desenvolveu os computadores. Estes são o resultado da acumulação de sabedoria, que entretanto foi produzida pela inteligência pura do raciocínio matemático.
O raciocínio é o instrumento primordial de aplicação da inteligência, e enquanto executado pelo pensamento; pode ser um modo de comparação e validação de informação a um nível subconsciente, apelidando-se de empírico, ou ser um modo de validação lógica de premissas e hipóteses sobre a origem e consequências do problema, apelidando-se de lógico ou matemático. O empírico é sobretudo um raciocínio abreviado, em que tentamos encaixar soluções a um dado problema, portanto de carácter prático, na sucessão de tentativa e erro das soluções experimentadas. O matemático é sobretudo um raciocínio demorado, em que tentamos alicerçar todo o processo de organização de ideias verdadeiras, que concorrem para o desencadear do problema, portanto de carácter teórico, na sucessão exaustiva de todo o conhecimento validado, até se compreender todo o fenómeno, para poder controlá-lo. Um é sobretudo um processo impaciente de resolução prática de problemas e outro é sobretudo um processo de produção de conhecimento verdadeiro. São métodos de inteligência que têm separado e antagonizado pessoas, uns práticos e outros teóricos. Estes estão mais condicionados à ciência institucionalizada, por usarem verdades aceites para explicar a realidade absoluta; tornam-se mais fechados à dúvida metódica por acreditarem numa escola. Os práticos não se importam em usar as verdades ou as certezas, ou falsidades, contanto que a solução experimentada funcione. No entanto, a inteligência está ao serviço dos dois, embora os impacientes confiem mais nela e na informação que armazenam nos seus cérebros. Aprendem a seguir o instinto e até a de terminar o que é bom instinto.
Os diferentes graus de inteligência prendem-se com as condições orgânicas do ser que a executa, com a quantidade de energia de que dispõe para viver e que fornece ao órgão cerebral de tratamento de informação, sendo portanto uma medida do desenvolvimento orgânico reactivo, de complexidade organizacional das células. Nunca devemos confundir inteligência com a sua manifestação visí­vel, na forma do desempenho dos Seres. Este é o produto do exercício da inteligência sobre os conhecimentos adquiridos; por isso, confundimos inteligentes com sábios, quando seremos todos igual­mente inteligentes, salvo haverem diferenças orgânicas relevantes. Diz-se, por exemplo, que Einstein tinha um cérebro mais ali­mentado que o normal; não podemos esquecer que os computadores funcionam melhor se não tiverem quebras de alimentação eléctrica, pelo que é conveniente servi-los por estabilizadores de corrente. A melhor estabilização eléctrica do nosso cérebro consegue-se com a manutenção equilibrada do corpo humano, em condições am­bientais controladas favoráveis, em termos de alimentação, descanso e emoções, que contribuam para o estado pleno de saúde física e psicológica. A capacidade de inteligência consegue-se sobretudo com o cuidado no desenvolvimento até à fase adulta, enquanto que a execução de inteligência é melhorada com o cuidado tido com o nosso organismo, em termos de hábitos de Vida. Ter uma vida regrada é cuidar de ser inteligente, pois que se introduz o factor de juízo sobre o valor de tudo o que fazemos e produzimos. O Poder de questionar as verdades é um exercício puro de inteligência, que pode transformar um colector de informação em colector de observação!

HOMOSSEXUALIDADE (Princípio da recusa sexual):

Homossexualidade define-se como a prática de rituais sexuais entre indivíduos do mesmo sexo.
Recusa define-se como a não aceitação de uma oferta, por se entender ser ofensiva, ou por não ser de confiança, ou por não ser admissível a condição e obrigação da oferta, originando a repulsa e até a prática contrária.
Assumindo-se a sexualidade como o motor mais forte da Vida, porquanto é o mecanismo de transmissão, recombinação, aperfeiçoamento adaptativo e perpetuação da informação genética, a negação da sua normalidade conduz à invenção de actos paliativos para satisfação da necessidade de prazer físico, que é muitas vezes a única motivação egoísta para o acto sexual. Esta satisfação pode obrigar ao acto dito homossexual, para tentar produzir o equilíbrio emocional que perderam pela recusa heterossexual. No entanto, a frustração sempre é menor que a obtida pelo acto de carícia autónoma, pois que esta ainda não contempla o afecto de outro ser vivo. De todo o modo atípico, as pessoas que começam por recusar o contacto heterossexual, fogem aos desentendimentos emocionais e aos desajustes de personalidades, em função da falta de capacidade para lidar com as diferenças, mas entregam-se às sensações de frustração emocional e aos artifícios das bizarrias, por estarem permanentemente mentalmente instáveis e em conflito entre a sua conduta e a normalidade biológica. Por isto, caminham de experiência em experiência, de desilusão em desilusão, de insatisfação em insatisfação, para a aberração e doença psico-fisiológica.
À medida que as várias anormalidades comportamentais se afirmam e ganham estatuto de aceitação ou tolerância social, passam a ser normalidades angariadoras de adeptos, remetendo os biologicamente normais para uma condição de marginalização social, por meio dos processos de discriminação de casta e racismo. Entretanto, o objectivo da nossa existência é descurado e negado, caminhando-se para o ocaso civilizacional e até da própria espécie, uma vez que se promovem comportamentos anti-reprodutores.
Homens e mulheres têm objectivos concorrentes para a sua aproximação, traduzidos nos comportamentos sexuais de chamamento de atenção e exibicionismo, derivados dos impulsos neuro-hormonais típicos, postos em marcha pelo processo de maturação, desencadeador da necessidade genotípica de procriar. Fenotípicamente, até se podem criar mecanismos de censura, rejeição e antagonismo, em resultado da vivência e relacionamento dos casais, sujeitos à incompreensão das atitudes do sexo oposto. Porque todos esperam a concórdia numa relação de autoritarismo, onde não se deixa espaço para a participação de todas as vontades e perspectivas, imperando também a falta de democraticidade nas famílias. Sobretudo, os casais não dialogam sobre o seu íntimo e não expressam o profundo dos seus pensamentos e sensações; mantêm-se no direito de reserva e no silêncio, distantes da confiança total e entregando-se à constituição dos segredos pessoais, que interessa esconder! No entanto, o avanço só é possível pela depuração de ideias entre opostos, pelo que fugir ao confronto é negar a possibilidade de conhecer outras possibilidades de resolução e é optar pela manutenção da guerra psicológica interior, que redunda em guerra de confronto físico, originadora da violência familiar e de qualquer outra guerra.
A experiência da vivência num grupo determina a nossa atitude, em função dos nossos valores e ideias comparativos aos de outros. O desejo de afirmação, conjugado com o egoísmo e com a maldade, aliados da vontade de mudar, conduzem rapidamente ao ódio e à separação entre os indivíduos. Estas atitudes repetidas conduzem ao isolamento e à eliminação das peças de constituição dos grupos. No plano sexual, combate-se a heterossexualidade e experimenta-se a homossexualidade, julgando-se decidir pela representação sexual mais cómoda. O extremo desta espiral de negações pode conduzir à simulação sexual com artefactos, com indivíduos imaturos ou até entre espécies, onde verte muita da violência interior que os indivíduos perturbados fervem dentro de si e exprimem na ausência de respeito pela privacidade e vontade alheias.
O desequilíbrio relacional das pessoas gera-se pela incompreensão das atitudes, pela recusa em sermos frontais e honestos, pelos complexos de vida e traumas, pela ignorância e fundamentalmente pela desconfiança. Esta separa as pessoas e enfraquece-as espiritualmente, gerando doenças psíquicas relacionais.
Excluindo as doenças orgânicas que provocam segregação hormonal errada e correspondente comportamento errado, as doenças psíquicas geram loucura e produção de comportamento atípico, estando na base de comportamentos sexuais desviantes, por se julgar muitas vezes errado o diferente comportamento dos sexos. É a negação das diferenças que conduz à repulsa e comportamento homossexual. Quando a repulsa se gera em mentes mais abertas, acolhedoras da dúvida, produz o comportamento bissexual, por haver apenas uma separação afectiva do sexo oposto. São apenas diferentes estádios de separação entre pessoas, tendentes para um processo de divórcio e desagregação social, em que as pessoas deixam de investir umas nas outras, para investir exclusivamente em si mesmas.
Há pessoas que preferem viver o celibato, usando terceiros para experimentações da satisfação pessoal; o princípio da auto-preservação, aqui aliado, produz comportamentos anti-sociais, insensíveis às necessidades dos outros. Cada vez mais, viver é um acto de libertação e libertinagem, com experimentação de tudo e súbito desinteresse, por nada se sentir de novo. Persiste o medo de investir, o receio de estabelecer cumplicidades, por se julgar o particular por norma geral.
É fundamental que se aprenda a confiar em relacionamentos normais, sem ter que submetê-los às necessidades sexuais do instinto de sobrevivência, investindo apenas nas afectividades e nas fraquezas íntimas de todos nós, confiando os segredos e receios às pessoas que nos acompanham para o desconhecido.
Quem decide acompanhar-nos, fá-lo por aquilo que conhece de nós, em resultado dos acontecimentos onde experimentamos as nossas fraquezas e medos, denunciados pelos nossos exibicionismos. Quem nos escolhe pelas nossas forças ou aparências pode ficar desiludido com as nossas fraquezas e com a realidade do nosso íntimo, o que pode originar o desencanto e rejeição.
Não queiram ser rejeitados; confessem-se sempre, à procura de alguém que vos aceite, por também partilhar dos mesmos receios; toda a relação triunfa com a união de fraquezas, para construir forças de entendimento e cooperação. Só falha aquilo que não é estabelecido!

INSTITUIÇÃO RELIGIOSA, CATOLICISMO E CULTO DA POBREZA (Princípio da submissão dos devotados ao Poder):

Instituição define-se como o estabelecimento, fundado para administrar as regras e normas, criadas para satisfazer um interesse colectivo, na esfera das necessidades sociais.
Catolicismo define-se como a submissão da religião cristã ao controlo legal romano, que exerce a autoridade, personificada num dirigente humano papal.
Pobreza define-se como o estado de fraqueza de algo, com carências, que podem ser produzidas por e/ ou produtoras de imperfeições físicas ou intelectuais.
Devotado define-se como dedicado e oferecido, para prestar colaboração numa causa, colaborando nas práticas, apenas pelo prazer da devoção a ela.
Poder define-se como a capacidade de exercer a autoridade, por aplicação de atributos e competências, dominando-se e influenciando o curso dos acontecimentos, pela aplicação de uma vontade institucional, mas sempre confundida com vontade particular do mandante.
Uma instituição é criada para satisfazer necessidades específicas ou globais, pontuais ou permanentes, de um povo servido e de um indivíduo ou grupo promotor, de modo que se reforça a organização social em torno das dependências interpessoais.
No entanto, a necessidade que comanda a arquitectura do empreendimento é a que é sentida por quem vê nele uma grande oportunidade de satisfação das ânsias pessoais ou de grupo restrito, com aspiração ao controlo de um aspecto socioeconómico da sociedade servida.
O sucesso do empreendimento será tanto maior, quanto maior for a mobilização dos intervenientes humanos, em torno de ideais comuns, consensuais e alargados, capazes de responder às necessidades mais prementes do indivíduo, no domínio da sobrevivência, ou no da problemática de conquista de estatuto diferenciado em níveis de conforto, ou no da problemática existencialista de relacionamento com os enigmas da Vida e com a preservação da entidade corporal que contrarie o que mais se teme; a busca da perfeição de Deus e a do encontro com a certeza das verdades deixa o Homem reduzido à sua maior insignificância, derrotado pela geração de inúmeros e terríveis medos, que apenas se suavizam pela confiança cega em verdades assumidas pela Fé, que interessa engrandecer, independentemente da confirmação e da garantia de certificação.
Acreditar em algo ou no seu oposto é quase sempre uma prova de Fé, face ao relativismo do conhecimento humano, cientificamente construído, pelo que se encontram muitos argumentos apaziguadores da ansiedade das dúvidas, transmitindo uma grande dose de estabilidade e segurança no modo de fazer e viver. Tendo algo em que acreditar, qualquer Homem é capaz de enfrentar todas as dificuldades externas e todos os medos internos, saltando constantemente para o escuro da sua ignorância. Qualquer experiência tem sempre alguns novos aspectos, não conhecidos, embora o evoluir da experiência humana signifique conhecer cada vez melhor as situações comuns do viver, especialmente as que estão tecnicamente melhor descritas!
No entanto, certas instituições religiosas registaram escritos complexos muito antigos, posteriormente difundidos por traduções mais ou menos fiéis, de sentidos facilmente pervertidos ou escamoteados, norteadas pelo culto do miserabilismo, da humilhação e da pobreza, como forma de aliviar as consequências psicológicas, decorrentes do assumir de uma condição social menos valorizada, inferior e até desprezada e desrespeitada, também pelos que lhe pertenciam. Prometiam, inclusive, recompensas futuras e divinas, em espaços e tempos de magnitude indescritível. Sabendo-se que seria impossível obrigar todos os Homens à igualdade de circunstâncias sociais e económicas, ficava a promessa de melhores dias aos que se submetessem aos que tudo controlam e que detêm a iniciativa do desenvolvimento social para direcções oportunas, em função dos apoios que consigam reunir nos já influentes.
A dualidade de posição preconizava que a condenação dos ricos era feita apenas para aliciar o despojo das suas riquezas, enquanto se enaltecia a virtude da pobreza, para impedir outros concorrentes para o enriquecimento, proveniente das doações. Assim, a instituição religiosa, nas mãos de pessoas menos escrupulosas, vai enriquecendo e proporcionando boas vidas ao seu séquito!
Era uma política muito conveniente para estruturar impérios de interesses, funcionalizados por famílias, em linhagens cada vez socialmente mais fortes. As próprias instituições religiosas enriqueceram à custa desta pregação, continuando a fazê-lo nos nossos dias e dando o exemplo para a constituição de novas seitas, num claro assumir de concessões para as mentes mais iluminadas e menos humildes. E novamente os intelectuais pensadores, cansados da esperança vã em melhores dias de verdadeiro humanismo, avançaram para uma luta estóica de desafio das autoridades, conquistaram posições solidárias e afrontaram a mentalidade romana, abrindo conflitos entre exploradores, proprietários usurpadores, e os pagadores de tributos, escravos do destino dos impostos!
De facto, não há "oito" que não venha seguido de um desfasado "oitenta", num claro rolar da história, fruto das colisões, atritos, acções e reacções individuais humanas; os normalmente espezinhados outrora são agora cada vez mais irreverentes, anti -sociais, agressivos, rebeldes e criminosos, perante os normativos legais vigentes e perante a tradição dos usos e costumes. Porque para triunfar é preciso desobedecer! Não é possível enganar, usar e desrespeitar os outros, sem que se tenha de pagar um preço futuro altíssimo pelos erros anteriormente praticados; veremos qual o preço que teremos todos de pagar, justos e pecadores, no despontar de uma nova época de agitação e convulsão social, aliadas ao tumulto e mudança de poder.
Já muito poucos acreditam na virtude da pobreza, e muito menos na sua relação directa com a felicidade; a riqueza, a todos os níveis, é uma componente da felicidade humana, sendo o paraíso possível em qualquer lugar celestial ou terreno, onde o Homem entenda ser altruísta, melhor consciente, e aspirar a ter as justas retribuições pelo desenvolvimento das suas capacidades, no respeito pela dignidade dos outros, menos ou mais realizadores, na directa prestação social do seu trabalho e na proporção do esforço e dedicação desenvolvidos, sem reparar ao seu exclusivo benefício, nem prejudicar colaboradores ou servidos!

“LOBBYS” E PARTIDOS (Princípio do domínio das oligarquias familiares):

Lobby, estrangeirismo com o significado de câmara de recepção, define-se como o sistema de pressões em torno de quem se recebe no nosso ambiente; a pouco e pouco vamos incorporando o estrangeirismo com sentido conotativo, alterando-o para lobi.
Partido define-se como a partilha em comum de um legado, que permite uma boa posição social para os que se dispuserem favoravelmente em tudo o que seja resolvido e determinado pelos líderes. Se o partido é político, o legado é o programa e doutrina de filosofia de funcionamento do sistema social, ou seja do “sistema”. Se o partido é um noivo casamenteiro, trata-se de avaliar os seus dotes, sobretudo financeiros, que garantam a tal posição social ambicionada. Quando se confundem os âmbitos dos vários partidos, origina-se a anedótica confusão em que mergulham os actuais partidos políticos, detentores do poder de governar o “sistema”, pois que certos eleitores continuam a visar a autorização para a alternância de poder, detido por apenas duas grandes forças político partidárias.
Oligarquia define-se como o governo da sociedade, baseado na execução da autoridade de poucas pessoas, que se constituem como as mais poderosas de um País, por dominarem os principais interesses económicos, ou a vontade da sua administração, acabando por submeter algumas pessoas, colocadas em lugares estratégicos de decisão, a certos juramentos de confiança e fidelidade, baseados em emboscadas da sustentabilidade económica pessoal e em armadilhas que são o depósito de segredos das fraquezas dos recrutados.
Desde sempre, o poder do "mando" foi desempenhado por pessoas originárias das mesmas regiões, das mesmas famílias, ou educadas nas mesmas instituições de formação pessoal. No nosso País, começa a haver uma tradição de poder exercido por pessoas do interior, próximo ao maciço da "Estrela - Gardunha", quer venham do Fundão, das Donas ou de Santa Comba Dão. O mais interessante é atribuir-se à serra da Gardunha manifestações estranhas, relacionadas com fenómenos ditos extraterrestres, e curiosamente não muito longe da região onde se ergueu a resistência à ocupação romana...!
É sabido que existem muitos entraves às pessoas e organizações que estejam fora de determinados círculos económicos e sociais, muitas vezes identificados como "Jet set"; para este, só são bem-vindas pessoas pertencentes a famílias progenitoras de reputação, conferida pela importância ancestral atingida e visualizada em brasões, produzidos no seio da aristocracia pedante. Todos os outros, fora deste "status", por mais inteligentes que sejam, não conseguem singrar na Vida.
Assim se perpetuam os poderes e as riquezas materiais, na mão das mesmas famílias, para que possam usufruir de melhor condição social e aproveitar o esforço dos outros. As famílias são sempre parentais, ligadas à ascendência progenitora, ou aos formadores e educadores instituídos (tais como a "Casa Pia", os "Jesuítas", os "Maçons", e outras instituições mais ou menos secretas, controladoras dos homens de poder), capazes de criar laços de cumplicidade e alienação de ideais e de personalidades, devidamente aprovados pelas pessoas que as financiam e as perpetuam!
Ocasionalmente, dão permissão a alguns líderes, afirmados pelo discurso e mobilização das massas, mas manietados e subservientes a grupos de influência. Veja-se o caso de grandes figuras carismáticas (mesmo imbuídas de um grande carácter) que, não obstante a sua diferente proveniência, acabaram por ser muito úteis aos que se abrigaram à sua sombra para perpetrar a corrupção, enriquecendo. Qualquer corruptor gosta de políticos alienados pelo próprio discurso, com determinação cega nas convicções pessoais, porquanto são obsessivos e não reflexivos, mergulhados na loucura do Poder, que se torna fácil controlar, com falácias confidenciadas. Assim, governa mais e melhor o conselheiro mal intencionado!
São os do interior, ou de zonas mais desfavorecidas a terem maior necessidade de enriquecer de uma forma maquiavélica, não olhando a pudores ou a justiças, mas tendo presente, instintivamente ser necessário parecer esperto e agir como esperto!
Compreende-se, agora, como se torna sempre mais fácil atacar pessoas que não estejam escudadas em confrarias comuns, e que por conseguinte, mais livres de pensamento e de acção, não acreditam em ideias vendidas e compradas. Privilegiados são os que cresceram ou viveram, em alguma fase da sua vida, ao abrigo de instituições formadoras de homens de Poder, e às quais nem todos têm igualdade de oportunidades de acesso; a riqueza já detida continua a ser o único garante de continuar a ser rico e a fazer mais riqueza. É assim que as famílias se perpetuam com o Poder de decidir e mandar!
O espírito de grupo é uma necessidade dos seres vivos, sobretudo quando desenvolvem organizações sociais, estruturadas para reagir aos perigos e adversidades naturais, quer para lutar con­tra os adversários vivos, quer para lutar contra os agentes geo - climáticos (tempestades, cataclismos, ambientes adversos, etc. ).
O instinto de sobrevivência, como característica animal mais primitiva, acaba por estar sempre presente, mesmo quando o perigo ou adversidade está na própria sociedade de semelhantes. Desde que o Homem interiorizou que existe concorrência dentro da espé­cie, a partir do momento que observou o crime praticado contra os da mesma espécie, começou a adoptar mecanismos de defesa. Uns querem desenvolver organizações dentro da sociedade para competi­rem melhor e para garantirem o seu sucesso, enquanto que outros associam-se para se defenderem dos perigos sociais conhecidos e desencadeados por grupos estranhos da sociedade, por serem antagónicos de uma boa consciência social.
A tendência origina um equilíbrio que anula a vantagem dos primeiros, voltando a estabelecer-se uma oportunidade de igualda­de para a concorrência.
Como toda a acção gera uma reacção de igual intensidade, os grupos criam novo desequilíbrio, na mira de ganharem vantagem; aparece a necessidade de ocultar informação e até de negar a existência de qualquer sociedade individualizada. Cria-se a necessida­de do secretismo, para proteger associações e pessoas, ou cria-se a necessidade de cultivo de amizades de grupo, unido por uma mesma experiência de vida, normalmente traumática, mas muitas vezes ligada a um sentido de loucura e perda de algo que os motivava fortemente.
A primeira fase de reacção é o medo, que interessa cultivar para que a intensidade da resposta dos oponentes seja enfraqueci­da. Os iniciados das seitas secretas, por meio dos cultos e da mística mitológica, envolvem-se de uma aura terrível, que ame­dronta mais os possíveis adversários.
Quando as pessoas se erguem em bicos de pé geram uma reacção de incremento da agressividade, imbuída de pânico, que tolda o raciocínio e precipita as atitudes de loucura. Normalmente, surge a tendência para as acções ditas terroristas; este terror físico, para equilibrar o terror psicológico dos adversários, dita o actual equilíbrio, presente na disputa pelo poder sobre territórios e recursos associados. Assistimos, entretanto, ao gerar de um novo desequilíbrio, porquanto alguém quer ter a hegemonia, assente na globalização e no totalitarismo da dita democracia; necessariamente os opostos reagirão, como estão a reagir, instalando-se a escalada da violência. Caminhamos para a matança dos inocentes, a partir do momento em que os terroristas de um lado deixam de punir selectivamente os culpados pelo controlo do poder que se abate sobre eles, e começam a espalhar a violência sobre os que também lhes estão subjugados nas sociedades ocidentais. O “lobby” não res­peita a diversidade de sistemas de governo, promove um grupo em detrimento dos outros, sonega oportunidades aos outros, concentra riqueza e empobrece os que não lhe pertencem, humilha porquanto ostenta o que subtrai aos outros, deixando-os mais pobres e redu­zidos à indignação. Quanto mais indignados, menos interessados na alimentação do sistema laboral. Foi posta em marcha a hecatombe do actual sistema; um novo equilíbrio surgirá quando for feita a revolução cultural.
No domínio dos Partidos são filiadas pessoas sem que se conheçam nos seus princípios, e sem que elas saibam quais os princípios da doutrina ideológica do Partido. Entram por ligação e cumplicidade com outras pessoas, sem que depois aprendam o programa político do grupo. Por isto nem sequer se preocupam em servir os cidadãos, no âmbito da vida partidária permanente, pois que até nem elaboram programas de candidatura aos órgãos para que concorrem. Os partidos nem sequer elaboram no seu funcionamento funções de ajuda permanente aos cidadãos da área das sedes. Não criam sinergias para trocar informações entre militantes, que originem bolsas de oportunidades, para emprego, investimento, compras e pedidos de resolução de problemas sociais. Cada um aproveita-se do sistema, como pode, para se servir apenas a si mesmo, mas estando sempre disponível para obedecer hierarquicamente ao grupo de que depende!

POLÍTICA E GESTÃO DOS CONFLITOS DE INTERESSES (Princípio da artimanha para agir sem que as diferentes personalidades se apercebam das nossas intenções):

Política define-se como a técnica derivada das ciências sociais, aplicada na arte de governar e organizar o Estado, embora podendo dar lugar aos comportamentos de astúcia, esperteza e habilidade de manipulação dos colectivos, por pessoas que não são preparadas nem competentes e apenas se guiam pelo politicamente correcto, que consiste em dizer o que as pessoas querem ouvir.
Conflito define-se como a incompatibilidade entre interesses, opondo tendências, que não se podem conciliar, acabando por originar insatisfação e disputa.
Artimanha define-se como a habilidade de enganar, criando um estratagema que se monta para armadilhar algo, com subtileza, para que o armadilhado nada descubra da emboscada.
Tem sido a arte de gerir conflitos de interesse entre personalidades em conflito, embora na origem fosse a arte de tratar dos assuntos da cidade, ou seja de gerir a povoação e o interesse colectivo. Cada vez mais, é a arte de discursar para aldrabar, ocultando interesses particulares, com a promessa de conseguir defender o interesse de todos. O político é um palrador exímio, capaz de fazer chegar coisas diferentes aos vários ouvidos, de forma que lhes seja agradável, utilizando expressões incompreensíveis, que alteram completamente o sentido das frases. Assim, a maioria que não entendeu, apreende só as outras palavras e dá outra leitura aos ditos, e que não por acaso é o que querem ouvir!
O político é um prometedor, que sabe do que todos gostam, mas está muitas vezes em contradição consigo mesmo, pois que não aceita o mesmo que os outros, embora sem coragem para expressá-lo. Mais importante nele é o que faz, e não o que diz, porque sabe que é difícil conciliar a vontade colectiva com o exequível, tendo em conta as restrições do pensamento de uns e de outros.
Basicamente, ao político compete resolver os conflitos sociais, gerados pelo confronto de egoísmos, e tem de iludir todos para aplicar um pouco dos seus princípios e modelos de sociedade. A vontade de agradar e não descobrir as suas ideias, aliadas ao tráfico de influências com os seus amigos de sempre, assegura as reeleições. Quase sempre, são tentados a satisfazer reivindicações díspares e inconsequentes, na forma de obras, que canalizam verbas públicas para o enriquecimento de privados amigos, o que acaba por ser inevitável, já que foi eleito no seio de um grande grupo. Os contribuintes são descapitalizados pela tributação, o que reduz o consumo privado, paralisando a economia. No entanto, o Estado em época de cobrança acrescida, torna-se um grande poder económico, capaz de decidir quem quer enriquecer, na forma de distribuição de subsídios e obras a privados. Por isto, a política mercantiliza-se e coloca os políticos a soldo de grupos económicos organizados, algumas vezes à sombra de congregações secretas, própria para adolescentes, embora mais perigosos, porquanto arrogantes, loucos, irados e mais poderosos, pois têm capital financeiro para executar acções dispendiosas e complexas!
E é por isto mesmo que algumas ideologias políticas defendem o Estado rico e poderoso, castrante da iniciativa privada e angariador de impostos pesados, subversivo mesmo da realidade, assumindo-se como o patrão dos cidadãos, que por ironia são os que pagam o estado e os políticos.
As nomenclaturas dos sistemas vão sendo alteradas, após cada período revolucionário, mas apenas como forma de acalmar as tensões, porque na prática vai permanecendo a ditadura de Estado, protagonizada por diferentes intérpretes, ao sabor da ascensão e queda das famílias económicas que controlam os actores políticos. È sabido que as revoluções começam no seio da família, onde existe o conflito de gerações, descambando muitas vezes em comportamentos de revolta dos mais jovens, que se entregam a processos de autodestruição, como é a toxicodependência e o desbaratar da riqueza familiar, embora esta mais adequada ao protesto!
Desde que o Homem se considere um ser social, a sua natureza determina a criação de grupos, orientados por um líder, que se impõe sempre por factores ligados ao que submete os outros; evoluiu desde a supremacia física e astúcia animal, passando pela supremacia da sabedoria e astúcia psíquica, pela supremacia da tecnocracia e racionalismo, até à supremacia capitalista e astúcia economicista.
Ao líder compete orientar os destinos e tratar dos assuntos de vida do grupo; dos assuntos ligados ao instinto de sobrevivência passaram-se para assuntos ligados ao princípio de competição intra-específica, onde o líder se preocupa mais em defender a sua permanência neste estatuto.
Os processos de escolha assentam no método eleitoral das escolhas das imagens apresentadas, pelo que os candidatos a líder têm de corresponder ao esperado pelos que vão realizar a escolha.
Em pequenos grupos é fácil determinar o carácter do candidato e fazer uma melhor escolha. Em grupos cada vez maiores torna-se difícil ou impossível efectuar uma boa escolha, dado que não há transporte de informação crucial sobre o carácter dos candidatos; as campanhas de informação são meras encenações pessoais que promovem uma imagem apetecida pelos eleitores, mas quase sempre não correspondem à essência dos candidatos.
Portanto, a solução é recrutar nos directórios de grupo, no seio das relações pessoais. Por isso, regressa-se à criação dos “Lobis” amigáveis, que começam no banco de escola, continuam-se pelos períodos de diversão, onde se criam os elos mais fortes, porquanto se partilham segredos e comportamentos menos honrosos, e que acaba por ser a chantagem e moeda de troca para se conseguir favores uns dos outros.
A própria natureza temporária do cargo político obriga os eleitos a preocuparem-se mais com os proveitos e manutenção do cargo, do que com a resolução dos problemas, e muito menos com o repensar do sistema, pois que pode ser fatal para a sua permanência e tranquilidade. Os acomodados, porque estão no Poder, logo economicamente privilegiados, não estão interessados na mudança, já que a actual realidade os promove, beneficia e lhes interessa! As mudanças, pela correcção de injustiças cabem apenas aos desfavorecidos, o que legitima as revoluções e torna-as essenciais, para mudar para melhor. A continuidade dos egoístas mantém o sistema injusto; não adianta protestar; tem de se destituir, pelo menos esta mentalidade dominante!
Portanto, a solução passa por formar a carreira política, instruir potenciais candidatos, e colocá-los como meros funcionários dos cidadãos, competentes para aconselhar caminhos, gerindo os interesses colectivos, definidos numa carta de objectivos de governação, decorrentes da aplicação da lei fundamental, pelo que há necessidade de referendar a constituição, artigo a artigo, e de discutir a carta de governação, para adoptar os consensos. Qualquer medida legislativa deve carecer da aprovação do tribunal constitucional e limitar todas as acções governativas. Assim acaba-se com a perversão do sistema, acabando as figuras de mandante e instituindo a de servidor das entidades certas. Os cidadãos pagam aos políticos para executarem a vontade legítima e lícita de todo um povo. Obviamente que quem paga é que decide quanto deve ser o salário do político e quais os actos disciplinares a aplicar no caso de incumprimentos e outras falhas de serviço. Se tiver que haver imposições, é fácil perceber quem tem maior legitimidade para fazê-las. Portanto deixa de haver impostos e passa a haver entrega voluntária de rendimentos, ao nível que o cidadão entende exequível e aconselhado, consensualmente aceite. O Estado deve realizar em função do que o cidadão entende possível, em resultado do que a iniciativa privada consegue gerar. O Estado, entidade administrativa de um território é um condomínio, e como tal deve ser gerido, à semelhança do que acontece com as partes comuns de um prédio! É que no prédio de cada um, gastamos o que queremos, em função do que temos e do que queremos ter!
Subsequentemente, em cada acto eleitoral devem estar apenas em discussão novas propostas de carta governativa, e/ou de artigos constitucionais, além das prioridades governativas, resultantes das necessidades de resolução dos maiores problemas, actuais e futuros.
A partir do momento em que se defraudam os eleitores, pois que as imagens exageram o valor real dos candidatos, surge o desencant; a resposta dos mais conscientes e responsáveis é a recusa de escolher, por falta de elementos sobre o candidato. Quem se abstém nestas condições é mais inteligente e racional. Os que continuam a escolher estão comprometidos, por aspectos emocionais ou de partilha material de algum ganho. Os primeiros, sentimentais, são os menos inteligentes, enquanto que os segundos, oportunistas ambiciosos, são os mais corruptos.
Assim sendo, cada vez mais, o candidato é representante de um grupo que quer comandar os destinos da humanidade, e que paga aos que apoiam os candidatos. Quem não recebe o que mais desejaria, isto é a resolução dos problemas sociais e a objectivação de melhor futuro, vai aderindo ao clube do desencanto e dos que não participam, nem sequer num protesto; participar é estar presente e dizer de sua justiça, que pode ser escolher alguém de confiança ou não escolher, indicando-o no momento da escolha. Votar em branco é um voto legítimo, e significa somente que os candidatos não são de confiança, ou não são capazes, por não se lhes reconhecerem virtudes de sabedoria, inteligência e carácter adequados às exigências do momento das dificuldades que se vivem.
Politizar, em sociedade, é dividir tarefas, entregando a resolução dos assuntos de orientação dos destinos da Vida aos mais aptos, em termos de inteligência, uso de sabedoria e carácter social revelado na sua conduta individual de respeito pelos outros, e avaliado pelo seu espírito de entrega à missão de servir o bem comum. Mas também é, em paralelo, participar activamente nas escolhas e nos processos de controlo dos candidatos, actuando como se possa esperar ou não, mas actuando sempre, nem que seja para afastar todos os candidatos contrários às características desejadas, até que os grupos particulares, ou Partidos, apresentem os realmente melhores para a boa evolução social.
Os que escolhem devem exigir honestidade e não devem remunerar aos que falharem as expectativas de cumprimento. Só assim os menos capazes deixarão de ter pretensões a candidatos de liderança.
A terminar, só deve governar o colégio eleito com a vontade expressa da maioria absoluta dos eleitores, como forma de criar estabilidade e consenso, pela afirmação de uma base alargada de vontades; é que actualmente os nossos governos são legitimados, no máximo, por apenas 20-30% dos eleitores, o que é desconcertante! Caso não se obtenha esta maioria, deve reconduzir-se o governo em funções, o que levaria os eleitores a uma maior participação nos actos eleitorais, sob pena de terem que dar continuidade aos mesmos governantes, a outra solução é distribuir as abstenções e brancos pela representação do associativsmo cívico nos parlamentos, de onde sairão os governos!
O fim último desta democracia é engrandecer temporariamente o poder económico do Estado, canalizando verbas, de modo a serem distribuídas pelos grupos financeiros privados seleccionados, para que se consolide a posição de certos interesses supranacionais, eventualmente ligados a organizações sociopolíticas internacionais. Assim se opera a transferência de capitais, de uns para os outros, pela via política! Assim, vivemos hoje a política dos subsídios, à escala internacional, tanto ao gosto dos financiadores dos ideais declarados, mas aparentes, da sombria internacional socialista. Por isto tudo, acreditamos que o poder económico está cada vez mais forte que o político, cada vez mais indissociáveis, ao serviço de motivações de domínio do mundo, por parte de grupos algo secretos, tais como as maçonarias e outros que ainda não são do conhecimento generalizado. É o estado do Estado e dos políticos, que não passam de peões a soldo, no tabuleiro do domínio da economia global. Uns querem escrever certo por linhas tortas e outros querem escrever errado por linhas direitas; no confronto, obrigam-se a enganarem-se mutuamente, fingindo que desejam o que não pretendem, embora se angustiem e penitenciem mais os que querem escrever certo, resultando em clara desvantagem para o lado do Bem. Já o meu avô dizia que o "diabo" é mais forte que "deus", pois não tem pejo nem consciência benévola, preferindo perverter, destruir, e prejudicar os justos, sobretudo se forem passivos!


DEMOCRACIA E SINARQUIA (Princípio do controlo governativo e da participação de todos na decisão):

Democracia define-se como o governo pela via da equidade do Poder, estabelecendo a soberania popular, em resultado do controlo da autoridade de cada um e das instituições. Existe igual exercício da autoridade por todos quantos queiram participar responsavelmente, e tenham o esclarecimento para compreender as intenções dos outros, de modo a usar o direito de opção pelas alternativas de decisão e interesses.
Sinarquia define-se como a administração simultânea do Estado pelas variadas elites e órgãos representativos das várias classes sociais e funcionais da economia. É precisamente para o que estamos a tender, pela via dos conselhos de concertação social.
Governo define-se como o exercício do poder executivo, administrando e conduzindo os assuntos do Estado, pela via de determinação ou decisão e aplicação de normas para os vários procedimentos da vida pública.
Desde que o Homem se submeteu à entrega de lideranças dos destinos sociais, conferiu Poder para determinar o seu futuro a uns poucos. Cada líder exerce o seu querer como mera recreação do seu intelecto, inicialmente na total dependência da sua única vontade. Em última análise, os grupos estavam sujeitos ao carácter dos líderes; se eram bons criavam sociedades felizes, e de contrário condenavam todos à tirania triste e à infelicidade dos desfavorecidos.
O princípio de revolta conduziu a conspirações que engendraram novos modelos de gestão dos grupos, baseados no Poder do povo. O sistema ditatorial global foi sendo substituído pelo sistema mais democrático, embora ainda não verdadeiramente democrático, em que a imposição e afirmação de líderes é substituída pelo processo de escolha não esclarecido; apresentam-se candidatos a uma população que não os conhece bem no íntimo, que não tem informação sobre os ideais apresentados, que não domina os princípios técnicos usados na liderança e na gestão corrente dos destinos sociais. Portanto, a escolha é motivada por aspectos acessórios da propaganda de imagens, não necessários ao acto eleitoral nem à capacidade de gestão social; tudo se decide com realidades virtuais que aliciam o povo para o engano!.
Daqui se tira que vivemos um momento evolutivo do poder e do seu exercício, fundado no gerar permanente de crises e baseado na alternância de ditaduras, onde o eleitor se limita a terminar e validar o período de governação. Quando assim é, a origem e fonte do poder continua a mesma, tendo-se limitado a substituir actores políticos, especialistas em teatro de animação de rua, com pendor dramático, mas que se traduz na apreensão comedida e desconfiada pelos mais observadores do povo. Vivemos a fase da política espectáculo, à pior maneira da tradição romana, que foram os primeiros a parodiar a democracia grega. Esta assentava no culto dos filósofos e das suas filosofias divinais puras, enquanto que a democracia romana assentava no exercício do poder de uma grandeza urbana, e por conseguinte dos seus promotores, autênticos senhores de riqueza material. Isto é a raiz da nossa civilização, que tem dado os frutos que se conhece; as guerras, a subversão de culturas, o domínio sobre os mais fracos, o poder económico da escravatura, etc.
Quando a raiz é de má cepa, os frutos ficam adulterados, e a colheita é sempre uma desgraça de enfermidades, embora de boa safra para alguns mais fortes.
Democratizar é conferir Poder a quem faça bom uso dele, em última análise quem tem interesse final nos resultados da sua aplicação ao Bem comum. O comum é todos nós, escravos do sistema e que não podemos prejudicar ninguém, enquanto membros sociais. Portanto há que disponibilizar informação e elevar o nível cultural dos cidadãos, para que saibam o que exigem e quais as suas consequências. Quem traça os destinos é o povo, mas incumbe alguns de gerir os objectivos de progresso social, sujeitos aos princípios estratégicos e tácticos traçados pelo povo, na forma de uma constituição referendada artigo a artigo. O esforço e tempo empregues nunca devem ser argumentos para invalidar o exercício da perfeição. Todos ambicionamos uma sociedade perfeita quando imbuídos do sentido de boa fé e pureza.
A democracia representativa tem de ser forçosamente participada, informada a vários níveis, para poder ser activa, e portanto verdadeira. Para se tornar efectiva precisa ser justificada, criando processos de juízo sobre os gestores políticos, de modo que se possam julgar e condenar pelo exercício fraudulento ou doloso dos seus cargos. O último estágio é a moralização da democracia, com lugar apenas para os estadistas, para os competentes e para os justos; os maus políticos, de todos os tipos, fugirão dela ou só terão uma oportunidade para se condenarem!
Só assim o humanismo é verificado, por permitir a livre ex­pressão de todos, com o intuito de promover o bem comum, única estratégia possível para o sucesso da nossa espécie neste planeta.
A democracia deve ser um método de governo de um território, em que a generalidade do povo é o accionista do Estado, enquanto instituição de gestão das partes comuns do território, onde vive esse mesmo povo, e nquanto que os políticos são os gestores do conselho de administração. Estes têm de prestar contas aos primeiros, que por sua vez aprovam ou não os resultados da gestão, bem como determinam as estratégias, tácticas e objectivos da governação; a qualquer momento determinado, de apresentação de contas, têm o poder de demitir o governo, ou reconduzi-lo. No caso de serem cometidas faltas penalizáveis, dar-se-á lugar a uma exoneração imediata, sem aguardar pelo momento de apresentação das contas!
A Democracia real é o melhor sistema de contrariedade dos interesses particulares egoístas, por clarificar os processos de decisão, e por controlar o exercício de governação, balizando as acções e submetendo-as ao plano traçado no programa de governo, nas vertentes de objectivos, estratégias, tácticas e princípios.

RACISMO E OUTRAS DISCRIMINAÇÕES (Princípio da rejeição de diferenças que tememos, ou que não cumprem a moda):

Em todos os processos de escolha, que presidem à constituição de grupos sociais, para nos relacionarmos em actividades profissionais, de lazer, de intimidade afectiva e familiar, é feita uma análise e selecção de preferências, segundo gostos pessoais próprios, ou segundo os que são impostos por entidades às quais nos subordinamos, no contexto de uma cultura transmitida.
Nuns casos, tenta-se reconhecer elementos de simpatia, em torno de características de afinidade connosco mesmos, e em torno de características antagónicas e opostas às que defendemos (quem selecciona, procura incompatibilidades com a sua cultura de ser, pensar e agir, para poder defender-se de situações incomodativas de ataque pessoal ao seu bem-estar e posição, dentro do grupo a que pertence, e no contexto do qual faz a selecção e recrutamento de pessoas); noutros casos, tenta-se avaliar a capacidade e recursos do perfil pessoal, de modo a estabelecer possibilidades de concorrência futura, e que se querem evitar, de modo a proteger a posição do recrutador. Qualquer novo elemento é visto, cada vez mais, como um potencial competidor, capaz de prejudicar a posição e "status" dos que já pertencem ao grupo.
Na altura da análise, decorrente do processo de selecção, actua sobretudo um jogo de aparências, por ser o que mais rapidamente produz impressões de preenchimento de estereótipos, de modo a podermos dizer sinteticamente o que é uma pessoa, e que possa ser comunicado a algum supervisor do processo. Em muitos casos, sujeitos a tempos curtos de escolha e decisão (empresas), torna-se urgente encontrar alguém, o que se torna mais fácil por escolha de uma característica que concilie a intenção da pessoa que escolhe, e não da que lhe é hierarquicamente superior. Quase sempre, no contexto de um mundo, sobretudo empresarial, muito competitivo, saem prejudicados os melhores, porventura os mais honestos e reservados e saem beneficiados os piores, porventura os mais desonestos e habilidosos na arte de enganar e satisfazer a cobiça. Para o seleccionador funciona a escolha sob princípios de protecção de posição e busca de perfis não incomodativos, relativamente a características fáceis de averiguar; em causa, a poupança de tempo para quem tem outras funções pendentes a cumprir, quer no seio do grupo de recrutamento, quer noutros espaços privados ou institucionais. É a acumulação de funções e responsabilidades que permite a negligência intencional ou não na execução de uma tarefa de análise, onde todo o cuidado é pouco, em torno da avaliação de pessoas para lugares de trabalho, por exemplo; Quem decide tem a faculdade de semear injustiça e infelicidade; é que os rejeitados podem ser gravemente prejudicados, sobretudo quando se está a decidir sobre o futuro de alguém que, como todos nós, precisa de uma fonte de receita para sobreviver e validar a sua existência.
Assim, desenvolvemos os eternos sentimentos de não gostarmos dos modos de alguém, ou de termos receio de quem nos faça "sombra", o que nos conduz à postura discriminatória prévia, apelidada de racismo. Criam-se as vítimas, que por sua vez se escudam em fenómenos de vitimação e de racismo em sentido contrário, geradores de raiva e de ódios contra pessoas e respectivos patrimónios.
Resumindo e concluindo, poucas são as pessoas que avaliam e seleccionam com isenção e rigor, como aliás em todas as matérias, neste e em qualquer país, embora cada vez mais depauperado no património de outrora, pleno de almas pequenas!

TERRORISMO E MANIFESTO VIOLENTO DO ÒDIO CONTRA OS OPRESSORES (Princípio do ataque de medo e diminuição da arrogância dos adversários):

Nos momentos de expansão territorial, desenvolvidos pelo Ho­mem, enquanto nómada à procura de recursos de sustentação vitais, era fácil, sem oponentes, reivindicar porções de terra para si e para os seus iguais culturais.
A partir do momento do início do hábito de sedentarismo, instituiu-se a posse de territórios, onde haveria de evoluir uma cultura. A civiliza­ção local e o seu povo acabaram por conquistar a posse de recur­sos naturais, que haveriam de ser valiosos, o que conduziu ao princípio da cobiça entre povos e ao fenómeno das colonizações, quer pela presença de colonos estrangeiros, quer pela instrumentalização dos governantes locais. Cada povo teve a oportunidade de satisfazer ou não a cobiça, fazendo o comércio ou a guerra, ou sujeitando-se a formas de prostituição. A evolução destes princí­pios conduziu ou não à satisfação das partes em relação.
Nos casos de não satisfação continuada, debaixo do domínio de colonos estrangeiros, surgiu o princípio da revolta e o prin­cípio da conspiração. A pouco e pouco, os povos usurpados levaram a cabo acções de enfraquecimento dos usurpadores, umas vezes de acções de violência física armada, e outras vezes de acções de desgaste psicológico, na forma de intoxicação da opinião pública, ou como subproduto subversivo de conspirações intentadas contra o poder dominante. Surgiu e instituiu-se o princípio da desconfiança pelas formas de Poder, o que conduz ao princípio da máfia, quando a coragem é insidiosa e cria formas alternativas de poder e esquemas socioeconómicos fora do controlo dos grupos institucionais da sociedade estatal, motivados pela desconfiança sobre os exercícios do Poder instituído.
Assumindo sempre o equilíbrio em todas as acções, qualquer máfia tem uma contra máfia, logo uma do lado negro e obscuro e outra do lado branco e claro, digladiando-se e espalhando o terror entre as consciências dos inocentes. Estes nunca chegam a entender quem são os justos e quem são os ímpios; quais os que buscam o bem colectivo e quais os que buscam apenas a satisfação egoísta das suas necessidades e ânsia de superioridade. Aos inocentes assusta bem mais o terror evidente, que aquele que sitia os cidadãos nas suas miseráveis vidas de explorados. Isto é usado para passar a mensagem de que só existe um tipo de terroristas, e que são fisicamente vio­lentos na luta contra o poder afirmado vigente, como se o poder estatal se revestisse sempre de boas intenções; como se fosse frequentado apenas por bons anjos.
Quando o poder do Estado se reveste de acções executivas in­justas, alimenta a conspiração e a coesão dos grupos oponentes, que poderão desesperar e descontrolarem-se, iniciando a violência física, como forma de manterem a sua sanidade mental, à custa dos processos de conspiração e revolta. Só passam ao desencadear das revoluções armadas se a conspiração se fizer com elementos do próprio poder estatal, que pretendem autonomias.
O mais grave e injusto é a cegueira das acções, que acabam por martirizar os inocentes, que nada têm a ver com a determinação do poder instituído. Torna-se condenável o atentado às vidas das pessoas humildes, que são meros escravos do sistema!
É preciso que se ouçam todas as vozes de discórdia, que se peçam colaborações em decisões cruciais, pois os povos avançam em discussão sobre todas as linhas de opinião e avaliação de interesses. Há que definir, em cada divergência, a quem dar razão, por evidência dos reais interesses escamoteados. Avançar para o objectivo social válido é seleccionar, nas várias reivindicações e interesses, o que é maioritariamente altruísta, justo e igualitário, de modo a não favorecer uns em detrimento de outros, portanto sem prejuízo de qualquer parte.
Ninguém é dono da verdade absoluta, mas todos possuímos uma peça essencial ao melhor avanço da sociedade, capaz de cumprir o encadear de processos que conduzam ao Homem mais perfeito!

.JUSTIÇA E IDEAL DE BEM (Princípio do não prejuízo alheio e respeito pela individualidade):

Justiça define-se como o acto de atribuir a cada um o valor dos seus actos, ajuizado pela virtude moral dos comportamentos, em termos das consequências para o seu mundo externo, e principalmente para a sua sociedade.
Bem define-se como o acordo com o ideal de benefício e representa a observação da melhor moral de correcção e ética das nossas acções, de modo a satisfazermos necessidades.
É o aspecto mais sensível da nossa vivência, porquanto tem a capacidade de regular todas as relações sociais, e portanto de definir a tendência das escolhas e logo o nosso futuro e respectivo clima de convivência. Encerra ideias imutáveis, relacionadas com os ideais mais puros de correcção do trato das pessoas e das situações, diria na esfera do que concebemos como divino, e portanto na esfera dos ideais religiosos de altruísmo, de Bem comum e de preservação da Vida e da harmonia, que resulte no respeito pela paz e concomitante respeito pelo nosso ambiente externo.
Há aqui uma moralidade que define o que é crime, muitas vezes fundamentada nos dogmas religiosos, nos mandamentos divinos, proféticos e eclesiásticos, embora estes últimos estejam já carregados do vício de mando que os homens da igreja impuseram e tentam ainda impor, na tentativa de dominarem o mando dos seus egoísmos de Poder e conveniência de riqueza.
Para se aplicar a justiça, tem de criar-se a norma legal que a observe, embora seja um longo processo de negociação e aprendizagem correctiva de melhoramento contínuo, até que se impeça a expressão de qualquer interesse particular egoísta. A má redacção inicial da lei pode originar incumprimentos tácitos, pelo aproveitamento de erros de forma e conteúdo e até pelas lacunas de previsão de situações de aplicação.
Por isto, temos muitas leis imperfeitas, algumas vezes propositadamente pelo cunho do legislador mal intencionado, sem que haja um controlo mais efectivo da sua produção. É fundamental para uma sociedade que a Lei não ponha em causa a justiça dos actos e dos princípios, sob pena de aumentar as incoerências e os atritos sociais que conduzem à instabilidade, á revolta e à revolução cíclica. Infelizmente para nós, as leis essenciais vão permanecendo e as pessoas vão mudando, pelo que as revoluções não adiantam nada de substancial, para nos retirarem da época feudal, em que permanecemos, desde os primórdios da constituição das sociedades humanas nacionais!
Queremos que o único “pressing” sobre o legislador seja a inspiração das boas vontades, orientadas para o bem comum da nossa espécie, em equilíbrio com os elos de existência do universo. Sobretudo, não queremos que a Lei seja colocada ao serviço dos interesses egoístas dos grupos de pressão que rodeiam o legislador, nas alturas de cobrança de favores, por exemplo quando se organizam campanhas eleitorais ou de difamação dos que não cedem às pressões particulares de poderes económicos obviamente egoístas, gananciosos, portanto criminosos.
O ideal de justiça tem aspectos fundamentais, considerados imutáveis e identificados com os princípios morais de conduta social. Visam a correcção dos comportamentos, face aos outros e ao mundo, procurando-se atingir o bem comum e a boa fé, de modo que possamos atingir um clima de respeito, consideração e estima por tudo aquilo que é exterior a cada indivíduo, mas que reflicta o melhor humanismo, pautado pela responsabilização pessoal!
A moralidade fundamenta-se em muitos dogmas religiosos, fruto da procura da verdade suprema e do bem máximo, procurando identificar autoridades máximas e intermédias, como forma de disciplinar os comportamentos, obrigando-os a normas de conduta. Por isso surge Deus, seus mensageiros e profetas, seus discípulos e Poderes terrenos. Criam-se as penalizações, na forma de tortura psicológica ou física, e os medos de errar. Surgem os mandamentos divinos, os eclesiásticos, as leis civis; elaborados e usados muitas vezes em proveito de poucos; sabemos já que o fundamental está em nós, quando orientados para o Bem dos outros, mais próximo do que é divino. Tem carácter permanente e imutável e não segue as conveniências do devaneio e da vontade individuais humanas; sobretudo é isento de qualquer egoísmo e procura satisfazer a sobrevivência da espécie e do indivíduo que para ela contribua!
Para que a justiça possa ser aplicada, torna-se urgente fabricar normas de conduta em situações usuais, que possam observar os melhores princípios de correcção, previstos em leis. Implica um longo processo de negociação e sobretudo de aprendizagem, por parte dos legisladores, de modo a melhorarem continuamente a lei, que teima em ser imperfeita, incapaz de controlar todas as situações de conduta, que estão constantemente a criar, como resposta de fuga ao seu cumprimento. Ainda bem que alguns se dedicam a tentar erradicar todas as formas de incumprimento e todas as formas de injustiça; pena é que alguns destes se dediquem a obrigar a certas condutas injustas, por força de aplicação de certas leis necessariamente injustas; há legisladores que padecem de vícios de pensamento e de má intenção, sobretudo quando se observa um alargamento das bases de Poder, com mecanismos de ascensão, intelectualmente não preparada, de pessoas e grupos de pressão da sociedade, ciosos de ver triunfar os seus interesses de classe! O que é facto, é que existem leis com vício de forma e conteúdo; quando obrigamos ao cumprimento de normas legais injustas, plenas de erros de redacção, de permissões ou omissões para os seus desvios (falta de previsão ou de interesse na previsão de situações reais de violação da justiça), e de intenções de favorecimentos particulares, em prejuízo de outros, criam-se condições de licitude para o não cumprimento da Lei, o que é manifestamente perigoso para a sustentabilidade e para a seriedade das condutas sociais!
Portanto, é fundamental que a Lei observe a Justiça, sob pena de constituírem sistemas distintos incompatíveis, ou não coerentes. Infelizmente, a própria alternância de Poder obriga ao proliferar de medidas legislativas contraditórias, uma vez que produzidas ao abrigo de princípios e visões sociais diversas, consoante a ideologia das associações políticas; se houvesse preocupação séria e coerente, cada associação política no Poder teria um conjunto legislativo próprio actualizado, pronto a aplicar em caso de governação, não se limitando a intervenções pontuais desgarradas, o que obrigaria a um grande trabalho permanente, mesmo em situação de oposição, o que em Portugal não é tradição, por implicar um trabalho profissional honesto, cabal e dedicado!
Ao contrário, cada governo vai legislando mediante as preocupações do momento e mediante as pressões exercidas por grupos colaboradores ou antagónicos de pressão; podemos dizer que se fazem leis encomendadas, visando a satisfação de grupos e situações particulares, fora da coerência e dos princípios de justiça. Assim, a Lei é geradora de desequilíbrios de poder e favorece tendencialmente os corporativismos, com prejuízo dos que não têm poder reivindicativo ou de influência, junto dos que representam as instituições governativas. Poder-se-á dizer que a Lei é o que os Homens quiserem, mas é sobretudo o que os grupos de interesse ditam, por detrás dos que se intitulam governantes. Manda, pois, quem tem o controlo da sociedade, por detrás dos bastidores da política, e quem tem o poder cultural intelectual, associado ao poder económico; falamos então de ditadura económico intelectual, sempre presente na lógica de escrita da Lei e na lógica de funcionamento de um País, refém das famílias ancestrais poderosas e empreendedoras, habituadas a antecipar as regras, antes de surgir o poder de discussão, sempre posterior ao poder de aquisição dos bens cobiçados! Os políticos são os primeiros reféns, até porque as suas campanhas estão dependentes do apoio económico conseguido junto de empresários e grupos de interesses, aos quais terão de retribuir necessariamente, uma vez que cheguem ao Poder de representar a governação. Se o não fizerem na produção legislativa ou na tolerância das negligências de verificação do cumprimento, arriscam-se a terem campanhas de intoxicação pública, visando as destituições, retratações ou demissões!
Portanto, podemos ver-nos confrontados com Leis que pervertem os princípios de justiça ou as normas fundamentais das cartas constitucionais, gerando situações de desacreditação do sistema governativo, agora apelidado de democrático, mas satisfazendo apenas as ânsias egoístas de enriquecimento dos que eram castrados no sistema governativo anterior!
A melhor forma de penalizar alguém é obrigá-lo a corrigir o erro; uma reparação de avaria faz-se nas peças que a produziram, embora se limitem a tirar os defeitos das peças (em mecânica ou em engenharia genética) e não reparem os efeitos produzidos pela avaria. Assim sendo, o criminoso (que pratica actos gratuitos, não imputáveis à responsabilidade de provocação de terceiros) deve reparar os erros, indemnizando as vítimas, restituindo os objectos ou pagando-os, sobretudo nas formas atentatórias do património, ou sendo desterrado, no caso de comportamento crónico anti-social de relacionamento, ou sendo excluído da sociedade, nos casos de crime de sangue, ou sendo condenado a trabalho de serventia ao lesado, nos casos de ofensa moral ou física.
Da Justiça só têm que temer os prevaricadores, por mais pesada que seja nas penas! A vontade política para que assim se cumpra só falta aos que tenham algo a contas com a Justiça...

REMUNERAÇÃO E PARTILHA DA COLABORAÇÃO (Princípio do pagamento de serviços comunitários em Salário):

Remuneração define-se como a recompensa pelo trabalho prestado, na forma de retribuição de bens ou outros valores materiais utilizados na sua aquisição. É uma forma de partilha, ou seja, de comunhão na usufruição de um bem, ou dos benefícios da sua exploração, embora por uma divisão desigual de proveitos.
A colaboração, ou seja, o interesse de contribuição com ajuda de grupo, para atingir o mesmo objectivo, não tem sido devidamente reconhecida, nomeadamente na fixação de salários. Estes são bens de valor de troca certo e constante apreciado, com o qual se faz correspondência aos valores dos serviços prestados.
Pagar o trabalho e a colaboração do serviço de alguém é estabelecer um valor relativo para as tarefas, em relação com o estatuto social de quem as executa; parece que se trabalha mais para manter a distinção da importância social das pessoas e das suas correspondentes classes, que continue a justificar o seu poder económico. Não tem sido importante a remuneração da qualidade e quantidade do esforço energético empregue na execução dos serviços que prestamos aos outros.
O acto de pagar resulta na transferência de capital, estando na base das desigualdades sociais; por isto, já sabemos quem enriquece e quem empobrece, em cada transacção, de forma a manter-se o poder económico dos que desejam controlar a sociedade, fazendo aprovar a lei que melhor serve a facilitação do negócio. Se os bens são finitos e há fluxo de capitais, é fácil perceber onde se concentra a riqueza e quais são os que têm licença para serem ricos.
Portanto, dada a apetência natural das pessoas para a ambição do que existe de melhor, e que explica porque queremos evoluir tecnologicamente, é fácil perceber que tipo de pessoas tendem para a ganância, escolhendo as suas profissões, em função dos estatutos remuneratórios. Em norma, os profissionais mais bem pagos estão apenas interessados no que o seu trabalho lhes dá, considerando secundário a preocupação com aquilo que prestam aos outros, já que se desenvolve cada vez mais o espírito mercantilista das várias funções, apostando-se sobretudo nas formas ardilosas de descapitalizar cada vez mais os clientes.
Por isto, hoje em dia, existem mais comerciantes de saúde do que médicos, mais comerciantes de leis do que advogados, mais comerciantes de projectos do que arquitectos, mais comerciantes de ideias do que solucionadores, e cada vez mais vendilhões. Mas ainda existem bons profissionais e bons prestadores de serviço. Todos gostam do que fazem, uns obcecados com o dinheiro e outros obcecados com a missão de servir e ser útil na resolução dos problemas dos outros!
Isto é assim porquanto existe um sistema remuneratório díspar, nalguns casos disparatado, reflexo da loucura dos que recebem e dos que pagam; atribui-se cinco euros ao trabalho horário esforçado de um trabalhador agrícola e algumas vezes mais de quinhentos euros pelo trabalho horário de um artista, ou de um negociante especulador da Bolsa.
A injustiça social começa aqui, e é mais chocante quando o trabalhador agrícola paga mais de vinte euros por hora, por exemplo num espectáculo de futebol a que assiste. Fica claro que, para uns receberem exorbitâncias, outros terão que perdê-las; é que as riquezas de uns fazem-se com o empobrecimento de outros. Portanto, os ricos são feitos e consentidos pelos pobres. Parece-me que não são os artistas nem os profissionais liberais a queixarem-se das dificuldades da Vida. Resulta que quem se queixa, queixa-se de si mesmo e das suas ignorância e estupidez, por teimarem em colaborar com os que os exploram.
Felizmente, o nível cultural vai aumentando; as pessoas tradicionalmente exploradas e pobres vão começando a recusa em alimentar a continuação desta situação. Está claro que evoluiremos para um sistema remuneratório cada vez mais justo, malgrado para os que desejavam reprimi-lo, pois que são as próprias heranças familiares que o corroboram, ao ritmo dos conflitos de gerações. Alguns até já se aperceberam da sua ignorância, tiveram mente aberta para compreender a razão da nossa existência, do nosso papel no universo, e já se renderam ao efeito da partilha; estão a doar o património que tinham extorquido aos clientes, ao resto da humanidade.
Os mais ricos vão ter de devolver o que tiraram aos pobres; o trabalho será pago em função dos custos reais de produção e do gasto energético empregue no esforço laboral. Trabalho é a energia e recursos empregues para efectuar uma força, e somente isso. O pior engano da humanidade, baseada em sistemas artificiais, orquestrados por oportunistas e criminosos, só pode conduzir ao colapso social, à revolta e ao caos de todas as civilizações. Para evitá-lo, temos de corrigir estas injustiças, ou seja, temos de reconstruir um sistema social natural, acabando com o domínio da ignorância, que reina entre as classes mais privilegiadas. Muitos pertencem a uma dita alta sociedade, apenas pela alta quantidade de dinheiro que conseguiram sonegar aos outros!
O trabalho, no contexto empresarial, tem sempre uma motivação de desempenho social, directa ou indirecta, que visa satisfazer uma necessidade. Portanto, deve ser avaliado pela sua quantidade e qualidade empregue na resolução das tarefas, ou seja deve ser ajustado por um preço justo, deixando de ser influenciado pelo sentido da oportunidade e aproveitamento das necessidades e sofrimentos alheios, que alguns ladrões insensíveis aplicam à miséria alheia. Se alguma pessoa necessita desesperadamente de algo para sobreviver, aparece sempre um vigarista oportuno que se aproveita, cobrando uma exorbitância para ajudar os desesperados.
O princípio da exploração está a massificar-se, uma vez que até os menos instruídos estão a praticar o que outros fizeram com eles. O problema agrava-se quando isto acontece, pois que sabemos que a exploração só é sustentável até um certo rácio, e todos sabemos que a alma do negócio é o segredo, embora cada vez menos guardado. É o elogio fúnebre da loucura e das elites socio-económicas, que, até agora, apenas souberam a cultura da injustiça, da diferença de condições e estatutos e da ignorância!

SEBASTIANISMO E OUTROS MARTÍRIOS (Princípio do fanatismo e submissão dos ingénuos):

Sebastianismo define-se como a crença na personificação da salvação de Portugal, caracterizada por uma esperança subconsciente e passiva pelo cumprimento das promessas adiadas, a partir da vontade de um líder. A falta de consciência no Poder que assiste a todos para mudar, leva os portugueses a desejar um monarca de promessas, que resolva o futuro do país, e que na época era Sebastião, envolto ou encoberto pelas profecias de salvação de um País, que sucumbia às infantilidades e deslumbramentos do fim do império das descobertas. Os portugueses julgaram ter a possibilidade de apropriar-se das riquezas descobertas no mundo, para fazer de todos os nacionais os homens mais ricos do período imperial; para espanto do povo de então, que realmente se esforçou em sofrimento, como sempre, a riqueza chegou apenas a uma minoria apropriada das instituições, que se limitou a gastar, comprando matérias fora do País. Mais uma vez o sentimento de traição das promessas e das pessoas valorosas e esforçadas, além do que prometia a sua força humana. Apenas por falta de maturidade e por ignorância é que se pode acreditar em desenvolvimento e em enriquecimento sustentado, sem nos basearmos na nossa força produtiva de extracção e transformação dos nossos recursos nacionais! Cada país deve ser o que naturalmente tem em si, e não o que vê nos outros, pois que isto sai muito caro e empobrece-nos, a troco de alimentar a nossa cobiça.
Martírio define-se como o sofrimento exemplar, causador de tormenta a quem resiste à obrigação de renunciar a algo.
Fanatismo define-se como a paixão e dedicação extrema incontestável a um ideal, que é o facho supremo a seguir. Quando o facho é personificado em alguém, este pode instrumentalizar os seguidores, submetendo-os à ditadura da sua vontade, o que pode originar excessos e acções contrários ao próprio ideal, na acepção maquiavélica de que os meios justificam os fins e são necessários.
Messianismo define-se como a personificação de fanatismo, baseada na crença da vinda de um redentor e libertador da felicidade, que se apresenta como autor da providência e iluminado por graça divina, para reformar a ordem e o sistema. Tem origem em antigos cultos e mitos de super deuses, originados em pressupostos contactos com povos extra terrestres.
O Sebastianismo foi um produto da acção dos interesses das instituições religiosas, que sempre sonharam com a unificação ibérica, num momento de apelidar de reis católicos, que só por acaso não eram portugueses. O crescimento, a instrução, o accionamento da campanha, o exílio como monge, encoberto pelo martírio figurado, foi tudo maquinado, em prol de um reino mais forte, ao lado dos desígnios da Santa Sé.
O interesse de alguns e a respectiva prossecução sem oposição interventora são atingidos pelo adormecimento individual e do colectivo, usando o sentimento de impotência generalizado perante o imprevisível ou perante o indesejado acontecido. Assim se fabricam e usam os mártires e os infortúnios, deixando o povo na incapacidade de responder com força anímica própria, porquanto este tem uma enorme idolatria e respeito profundo pelos lideres carismáticos, que alimentam promessas de salvamento e melhoria da situação, rumo ao cumprimento enaltecido de um futuro promissor de Portugal. Quando desaparecem ou são substituídos sem o consentimento popular, acentuam ainda mais o descrédito na esperança, geram desconfianças no sistema e desmobilizam o entusiasmo e a cooperação, obstando-se à substituição acertada do líder, e á continuação da respectiva obra; qualquer "abutre" tem caminho aberto e facilitado para a conquista do Poder, quase sempre na posição de traidor conspirador não assumido nem identificado, mas desonesto usurpador de lugares de destaque. O povo fica simplesmente apático e "tolhido" ante o desaparecimento ou derrube de um símbolo acarinhado, tornando-se mais fácil manietá-lo nas suas consciências e acções, por uso de alguém que seja expedito na identificação e aproximação ao ente -símbolo (mal) amado perdido.
Embora o colectivo saiba estar irremediavelmente perdido o seu intérprete heróico, alimenta a sua mística, na esperança de um milagre, na procura de um retorno, na alimentação da ilusão do não ter acontecido, na criação de uma promessa, eternamente não cumprida, de futura bonança, e até do regresso da mesma personagem! Muitas vezes, os mesmos que traçaram o destino da perda, alimentam o sentimento de perda, mesclado com a esperança de um retorno e de um continuar da obra e do prometido; é uma falácia, porquanto toda e qualquer perda é irreparável, uma vez que cada pessoa é um mundo único de ideias, impossível de reproduzir em todos os seus pormenores, ou para além do que cada ser humano aprende da cultura instituída, necessariamente moldada à personalidade de cada um! Com cada vida perdida, não exprimida, perde-se uma cultura particular e uma representação muito própria do mundo, que acalentada na sua existência poderia resolver males ainda não terminados.
Sendo que todos os indivíduos, mais ou menos impermeáveis às ideias dos outros, são formados pelos indivíduos da sua companhia sentimental e afectiva mais ou menos privada, sobretudo no período crítico da juventude, podemos dizer que o nosso D. Sebastião foi embebido por pensamentos e atitudes reactivas determinadas, para alimentar um fim; que se precipitariam na hora de agir em força, por instigação de alguém interessado, de desígnios menos claros! Sempre à guarda e tutoria da Igreja, acabaria por esquematizar o seu pensamento de acordo com os aconselhamentos e instruções eclesiásticas, que obedeciam a um só desígnio, não assumido, mas denunciado, de reunificação ibérica, tão ao agrado dos então cognominados reis católicos; eram espanhóis os de maior importância no seio do Vaticano de então, claro! Só um jovem, tornado inocente, sob a capa de um grande fanatismo religioso, podia ser usado conveniente e automaticamente para dirigir uma campanha suicida, desprotegida, em nome dos grandes ideais de expansão, anteriormente usados em contextos obviamente diferentes!
D. Sebastião foi conduzido ao fracasso, à fuga envergonhada e ao refúgio francês, embora, sob o efeito do despontar da maturidade ideológica, tenha tido momentos de arrependimento e ânsia de regresso, sob o sentimento de medo e impotência; medo da reacção do seu povo ante o descobrir da verdade e impotência perante o domínio das pessoas influentes de Lisboa. Os descomprometidos e receosos do Poder dos espanhóis aconselhavam e instigavam ao regresso, assumindo a covardia da fuga, mas os tecedores do desastre premeditado forçaram o exílio na sua guarda, em processo de expiação das culpas em todos os erros premeditados da "nação lusa"; para quê permitir os anseios de grandeza de um povo, aninhado num País tão pequeno, mas com uma alma tão grande, pelo menos diversa, para relembrar "Pessoa"?!
Definitivamente, temos de saber optar pelo que queremos, sem receio de assumir os efeitos, sejam positivos ou negativos; os outros também o fazem, globalmente melhor, pois que já estão mais avançados. Ainda existem pessoas e instituições interessadas em reunificações, com dividendos para uma só parte, o que é visível no campo económico, de resto a forma actual de conquistar povos e territórios, que anteriormente não foram conquistados pelas armas; as conquistas subtis são mais pacíficas e melhor empreendidas, pois que a força física é fácil de contrapor, mas a força da inteligência ou da artimanha, a coberto da ignorância, não.
A Igreja continua a ser um outro sistema de Poder, em que os interesses mundanos de uns poucos se aplicam ao abrigo dos argumentos rebuscados da religião, do sagrado e do tabu. No seio eclesiástico existem também muitos contra poderes, que servem entidades bem diversas, já que todos nós somos mais permeáveis aos apelos sentimentais, na dependência das nossas origens. Somos permeáveis aos pedidos da pátria, da família, dos amigos, ou de quem precisamos recompensar por bons e grandes favores recebidos, sobretudo quando temos de dispor de algo para dar (pagar), que não nos pertence! Por duas razões, para agradar, com receio de perder a amizade, ou para afirmar a superioridade e importância das nossas decisões

CIVILIZAÇÃO E NORMALIZAÇÃO (Princípio da influência na sociedade cultural):

Civilização define-se como a inclusão dos indivíduos num sistema social de conduta cultural comum instituída, de modo a criar características padrão e normais de comportamento e convivência, criando-se os valores morais de urbanidade, ou cortesia entre as pessoas, de modo a garantir os ideais sublimes do trato humano.
A civilização resulta do esforço conjunto de um povo, ou da direcção interessada e continuada de uma elite de pessoas, pressupostamente esclarecida e assumidamente mais culta, embora representem apenas os que se sujeitam a um tipo de ideias e sabedoria, contra todos os outros tipos, que considerem errados! Interessa unir o povo em torno de uma só corrente de pensamento, de modo a poder controlar em caso de conflito ideológico, afirmando que se está mais certo que os opositores; é particularmente evidente nos locais de luta social e política.
Só muito lentamente se processam alterações na ordem e procedimentos, mesmo quando há situações de ruptura social, em processos revolucionários de conquista do poder, frutos da conspiração de pensamentos emergentes e que fazem crescer as ânsias de domínio da sociedade, em grupos sucessivamente frustrados, mas com capacidade intelectual para presidir aos destinos de um povo, assumindo-se como melhores pensadores, decisores e defensores dos interesses colectivos!
Formam-se continuamente novos ricos, em ciclos de ascensão económica e social, capazes de influenciarem o curso dos acontecimentos políticos, criando sistemas de imposição do descontentamento e das suas vontades, por meio de uma propaganda, capaz de manipular os pensamentos, as consciências e as acções do grosso da população, que desconhece as motivações íntimas dos que se arvoram em defensores do povo desfavorecido! Usando a revolta dos outros, para perpetrar "golpes", acabam por calar-se quando recebem o que realmente pretendiam; sabemos agora que os desfavorecidos são sempre os que se aproveitam dos que estão condenados a sê-lo eternamente, porquanto os que ascendem ao
Poder acabam por ser igual ou pior do que os que criticavam! Moral da história; só nós é que somos bons, especialmente quando estamos ou queremos estar no Poder, para podermos enriquecer rapidamente e encher o orgulho pessoal de estatuto de importância social. Temos portanto, em cada momento, instalados no poder ocupados a satisfazerem-se e realmente desinteressados dos desfavorecidos, que acabam por ganhar coragem, influência e legitimidade para derrubar os que detêm o cobiçado. É uma questão de tempo em cada ciclo de ascensão e queda de pessoas, operado a partir de dentro do grupo de instalados. A natureza humana é muito traiçoeira e agressiva, tendo o seu expoente máximo nos fenómenos de guerra declarada e beligerante, em disputa por recursos, á maneira do instinto animal; somente os humanos desencadeiam uma competição mais feroz e destrutiva. Por conseguinte, o Homem é o animal mais feroz do planeta, até ver, pelo menos até que um dia a moralidade ou o "comem todos" vença!
Por enquanto, inventam-se nomes para os sistemas políticos e foge-se à realidade animalesca da natureza humana, de modo a fazer crer que há mudança, nem que seja só de organização e acção social, assumindo-se que mandam outros, embora sempre da mesma forma, tendo por base as motivações animais do ser humano e o tradicionalismo ideológico.
É sobretudo em momentos de crise de ideias e das personalidades, que se acelera a perda de identidade, com franca abertura às influências externas. Claramente, existe uma recusa do legado cultural nacional e uma tentativa complementar de busca de outros modelos, que se julgam mais realizadores na resolução dos problemas, que normalmente se julgam derivados da nossa maneira de ser, pensar e agir. Por isso, cansados de atribuirmos a causa dos nossos problemas ao nosso "feitio", esquecemos, por exemplo, o nosso Carnaval e instituímos o Carnaval brasileiro, passando a viver com identificações de outros povos, que porventura admiremos, na capacidade de desfrutar a vida e os momentos de prazer; o curioso, nesta matéria, é o estarmos a importar modelos culturais originários da hibridação da nossa cultura ancestral com povos colonizados e dominados, em territórios estranhos a quase todos. Parece que, em resultado de termos levado a nossa cultura a todo o mundo, somos conduzidos agora ao movimento contrário, quer por inércia da nossa cultura primitiva, incapaz de evoluir, quer porque estamos grandemente insatisfeitos connosco mesmos, incapazes de resolver o nosso presente e incapazes de evoluir para melhor no aperfeiçoamento da nossa cultura; ao aceitarmos a nossa incompetência, recusamo-nos a servir a nossa cultura e deixamo-nos colonizar pela cultura dos outros, que aparentemente são mais felizes e realizadores. A cultura americana, meridional ou setentrional, começa a ser uma referência cada vez mais comum para os Portugueses e para os Europeus latinos. Deixamos de ter personalidade própria e passamos a submeter-nos à ditadura cultural dos que são mais extrovertidos, exuberantes e mais libertinos. De facto, só não aceitamos as nossas ditaduras, sobretudo as que nos comprometem mais com as nossas responsabilidades, extraindo o nosso desejo de abandono e diversão! Gostamos de uma vivência onde não haja uma preocupação sintomática com as motivações dos outros, mas antes um desejo de satisfação das motivações pessoais próprias, no sentido da busca do prazer; daí o abuso das dependências (sexo, droga, adereços materiais) e das pessoas!
Existe ainda um grande desconhecimento sobre as pessoas e as suas organizações, e sobretudo não nos esclarecemos sobre as grandes questões da Vida e do Universo; somos muito pagãos e sobretudo muito inocentes, uns sobre os outros e outros sobre o enigma da existência de tudo! É a imbecilidade e o apego às "coisas vãs" que norteia o jogo de poder dos materialmente mais ricos. Talvez para que se esqueçam de perguntar de onde vieram e para onde irão...para se esquecerem ou nunca descobrirem a enormidade aterradora da sensação de eternidade de parte ou de tudo o que existe, no contexto de mais nada, em ciclos de construção e destruição universal! Até quando se manterá o universo em ciclos de expansão e contracção, ou até quando existirá em transformação? Como se criou, ou foi criado? De onde veio a matéria para a sua criação, ou o seu criador? Como conceber o infinito de algo que existe ou o surgimento de algo a partir do nada? Realmente, é melhor passar a Vida de uma forma mesquinha e insignificante, ocupados a enganar os outros, provando que se é melhor que coisa nenhuma, sendo que é mais certo o futuro de nada ou o nada como futuro! Acabará o que existe e existirá/ será criado algo diferente? A ser feita a continuação, a que se resume a nossa existência, no âmbito da extinção das espécies e de transformação desta Vida? E qual a importância de Deus na continuidade das suas obras imperfeitas, ou no fim das suas criações? Afinal, o que valemos nós, e porque não nos ajudamos todos a encontrar uma solução para a perspectiva futura de condenação eterna, em função das respostas a estas questões? Iremos para a via da replicação dos nossos corpos, ao encontro de Deus, na eternidade? Iremos criando deuses mais novos, à medida que o Universo tenha mais tempo?
Entretanto, fazemos apenas por viver, semiconscientes, mas alheados do fim último e apegados a satisfazer o que mais se gosta e mais prazer dá; ninguém gosta de ser pobre no presente, mas pouco se importa se está a contribuir para a construção da pobreza do futuro.
Precisamos arranjar formas e meios de sermos todos verdadeiramente ricos. Na actual feira de vaidades, andam mais preocupados a impressionarem-se mutuamente, em proveito próprio, enquanto que outros impressionam profundamente, sem o desejarem nem reclamarem qualquer reconhecimento. Outros vivem na sombra, sem usarem os talentos que lhes foram confiados, quer porque os desconhecem, quer porque não lhos reconhecem, em função de terem sido humilhados e prejudicados pelos medíocres que com eles têm medo de competir lealmente!